Homilia de D. Bernardo
Bonowitz, abade
Mosteiro Trapista Nossa
Senhora do Novo Mundo
Campo do Tenente/PR, 27 de abril de 2016
O
nome Basílio, em grego, significa “rei”. “Então, tu és rei?”
Para você pode responder afirmativamente e ser um rei não somente
em nome mas em verdade, você precisa de adquirir um reino, precisa
ir em busca de um reino. Jesus já lhe disse isto no Sermão da
Montanha, como advertência e como promessa: “Buscai primeiro o
reino dos céus e sua justiça e todo o resto lhe será dado por
acréscimo.”
Nós
seres humanos somos curiosos e gostaríamos de saber um pouco mais
sobre este “todo o resto”. De que se trata? Corresponderia às
nossas esperanças? Hoje em dia, o jovem adulto tem um grande desejo
de realizar-se. É uma intuição fundamentalmente cristã, com a
qual Deus está totalmente de acordo. Foi Ele quem lhe concedeu (e a
todos nós) um enorme potencial de interesses, de talentos, de
sensibilidade, de habilidade, de capacidade pela relação, para
nomear só uma pequena parte. Não há ninguém mais ecológico do
que Deus, e se Ele o cobriu com tanta riqueza, não era para toda
esta riqueza ficar no estado de não-desenvolvimento ou de
subdesenvolvimento, de ir “para o ralo” – ou “para o lixo”,
como vocês dizem. O desejo que você sente para crescer até a sua
plenitude é um eco interior do desejo que Deus sente para você. É
um aspecto de seu amor paterno. Ele não se satisfaz com uma edição
condensada de Basílio; Ele quer “ler” o texto integral.
Um
segundo desejo característico das pessoas sua geração (talvez de
todas as gerações) é de viver relações marcadas por proximidade
e respeito por nossa individualidade. Foi o seu xará, São Basílio
Magno, que falava tanto sobre o ser humano como um ser social, um
cenobita por natureza. Mas assim como a música consiste de uma
alternação de sons e silêncios e que sem os momentos de silêncios
a música logo viraria um barulho insuportável, assim a verdadeira
sociabilidade inclui respeito pelos “espaços” que distinguem uma
pessoa da outra. Nós poderíamos construir uma fórmula muito
simples: Sociabilidade + Privacidade = Amizade. Além de
enriquecer-nos com dons, Deus também nos enriqueceu com
necessidades. Temos uma necessidade de proximidade, de comunhão
explicitamente vivida com outras pessoas; e temos uma necessidade de
solidão, que nos permite comungar conosco mesmos, com a natureza,
com o mistério da existência, com Deus.
Há
um terceiro desejo de compreender-se, compreender a própria
história, compreender a contribuição positiva e negativa das
pessoas chaves do seu passado, compreender os desvios feitos e
feridas sofridas que continuam a exercer uma influência em nossa
vida, e, sobretudo, de chegar a uma reconciliação com tudo isso,
fazer as pazes com tudo isso. Como seria bonito poder olhar no
espelho e não sentir nem nojo nem rejeição nem auto-inflação,
mas gratidão e tranqüilidade e carinho – sim, carinho pelo homem
no espelho, amigo de longa data. Quantas pessoas passaram a sua vida
inteira dizendo para o homem no espelho, “Não gosto desse aí!”
– e como isto é triste.
“Buscai
o reino dos céus e sua justiça e todo o resto lhe será dado por
acréscimo”. Misteriosamente, estes três desejos lícitos, e
muitos outros, não podem ser satisfeitos por uma abordagem direta.
São frutos de uma relação de fidelidade, lealdade e integridade
com Cristo. Pela adesão verdadeira a ele, o seguimento dele segundo
o evangelho e a Regra, a obediência às inspirações de seu
Espírito, a preferência absoluta pela pessoa de Cristo e a comunhão
com ele- pela permissão mil vezes dada e renovada para ele ser o
basileus de sua Basiléia, o rei de sua vida, você entrará em posse
do seu próprio reino. Talvez fosse isto que Santo Agostinho estava
dizendo ao afirmar: “Servir a Cristo é reinar”. No início da
caminhada, consciente ou inconscientemente, é esse “acréscimo”
que mais nos interessa, o tornar-me eu mesmo. Com o passar do tempo,
é o companheirismo com Cristo que importa: Possuindo a Cristo, já
possuo tudo.
Quando
eu era criança de 8 ou 9 anos, criei um enigma: “Se pudesse
escolher, eu preferiria ser o rei ou o amigo da rei?” Logo veio a
resposta: “O amigo do rei.” É assim que nós entramos em nosso
reinado, em nossa realeza, tornando-nos amigos do Cristo, verdadeiro
rei (como São Bento o chama). E Cristo que habita em você, Basílio,
e que pede sua amizade, seu serviço e seu amor que transformará um
mero nome em uma revelação de sua identidade. “Com ele
reinaremos.” Amém.
Um comentário:
Como me enche de alegria ver a forma em que Deus fala por meio do ministério de Dom Bernado, obrigado!
Postar um comentário