30 janeiro 2006

A ficção chamada “inimigo”

“ Aprendi que uma época em que os políticos falam sobre paz é uma época em que todos esperam guerra: os grandes homens da terra não falariam tanto de paz se não acreditassem secretamente que, com mais uma guerra, aniquilariam seus inimigos para sempre. Sempre, "após só mais uma guerra", raiará a nova era do amor: mas primeiro todos os que são odiados devem ser eliminados. Pois o ódio, entendem, é a mãe do que eles chamam de amor.

Infelizmente, o amor que deveria nascer do ódio nunca nascerá. O ódio é estéril; não gera nada além da imagem de sua própria fúria vazia, de seu próprio nada. O amor não pode vir do vazio. Ele é cheio de realidade. O ódio destrói o verdadeiro ser do homem ao lutar contra a ficção que ele chama de "o inimigo". Pois o homem é concreto e vivo, mas "o inimigo" é uma abstração subjetiva. Uma sociedade que mata homens reais para livrar-se do fantasma de uma ilusão paranóide já está possuída pelo demônio da destrutividade, porque se tornou incapaz de amor. Recusa-se, a priori, a amar. Não se dedica a relações concretas entre pessoas, mas apenas a abstrações a respeito de política, economia, psicologia, e até, às vezes, religião.”

The Collected Poems of Thomas Merton
(New Directions, New York), 1977. p. 374-75
Reflexão da semana de 30-01-2006

Um comentário:

Waldecy Gonçalves disse...

A Reflexão desta semana repete na íntegra e propositalmente, o mesmo texto publicado em 6 de setembro de 2004, como uma forma de marcar o presente momento político internacional.