15 janeiro 2007

Um homem e a graça

(Notas sobre a situação do problema racial antes do início da violência — 1962)

“ Felizmente, os negros têm um líder, que é um homem da graça, que entende a lei do amor, o mistério da maior graça secreta concedida ao negro e a ninguém mais. A graça que os criadores dos primeiros spirituals conheciam bem: a graça da escolha que fez deles os eleitos de Deus, a graça que os elevou acima das coisas insignificantes e triviais da vida, mesmo em meio a terrível e injusto sofrimento.

O negro sabe coisas que o branco jamais poderá saber. Coisas que pertencem ao destino espiritual puro e singular da América que foram negadas ao branco, e que lhe serão negadas para sempre por causa de sua brutalidade para com o negro e o indígena. Assim, também há coisas que só o judeu pode saber, vedadas para sempre ao gentio, mesmo aos melhores cristãos.

Contudo, infelizmente, esta herança secreta, essa preciosíssima revelação de Deus que pressentimos ouvindo o canto de Mahalia Jackson, assim como a música dos maiores e obscuros artistas do jazz, também pode ser perdida. O mero fato de ser negro não garante que se seja digno desta preciosa herança.”

Conjectures of a Guilty Bystander, de Thomas Merton
(Doubleday, New York), 1966. p. 112-113
No Brasil: Reflexões de um espectador culpado, (Editora Vozes, Petrópolis), 1970. p. 129-130
Reflexão da semana de 15-01-2007

Um pensamento para reflexão: “Agir por amor à verdade, ‘realizando a verdade na caridade’, é agir apenas em função da verdade, sem se preocupar com as conseqüências. Isso não significa fazer impensadamente o que parece ser bom sem se importar com um possível desastre, mas sim fazer cuidadosamente o que se acredita ser uma boa opção e depois deixar que o próprio produzir suas boas conseqüências no seu devido tempo.”
Reflexões de um espectador culpado, de Thomas Merton

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