28 fevereiro 2005

O frenesi do ativista

“ Douglas Steere observa com muita justeza que existe, hoje em dia, uma forma penetrante de não-violência à qual o idealista que luta pela paz por métodos não-violentos sucumbe com grande facilidade: o ativismo e o excesso de trabalho. A correria e a pressão exercida pelo ritmo da vida moderna são uma forma, talvez a forma mais comum de sua violência radical. Deixar-se levar pela multidão de preocupações em conflito, entregar-se a múltiplas exigências, engajar-se em demasiados projetos, querer ajudar a todos em tudo, é sucumbir à violência. Mais que isso, é cooperar com a violência. O frenesi do ativista neutraliza seu trabalho pela paz. Destrói sua capacidade interior de paz. Destrói a possibilidade que tem seu trabalho de dar fruto, porque aniquila a raiz da sabedoria interior que torna o trabalho frutuoso.

Conjectures of a Guilty Bystander, de Thomas Merton
(Image Books, uma divisão da Doubleday & Co., Garden City, NY), 1968. p. 86
No Brasil: Reflexões de um espectador culpado, (Editora Vozes, Petrópolis), 1970. p. 99
Reflexões da semana de 28-02-2005

21 fevereiro 2005

O melhor não é o ideal

“ O que é terrível em nossa época é precisamente a facilidade com que as teorias podem ser postas em prática. Quanto mais perfeitas, quanto mais idealistas são as teorias, tanto mais horrendas sua realização. Estamos enfim começando a redescobrir o que os homens conheciam talvez melhor nos tempos muito remotos, nos tempos primitivos, antes que se pensassem em utopias: que a liberdade está vinculada à imperfeição e que limitações, imperfeições, erros são não somente inevitáveis, mas até salutares.

O melhor não é o ideal. Onde aquilo que é teoricamente melhor é imposto a todos como norma, não há mais lugar nem mesmo para ser bom. O melhor, imposto como norma, torna-se um mal.”

Conjectures of a Guilty Bystander, de Thomas Merton
(Image Books, uma divisão da Doubleday & Co., Garden City, NY), 1968. p. 96
No Brasil: Reflexões de um espectador culpado, (Editora Vozes, Petrópolis), 1970. p. 111
Reflexões da semana de 21-02-2005

14 fevereiro 2005

Unido à vontade de Deus

“ Por fim, a respeito de estar unido à vontade de Deus: não estou dizendo que você deveria formular isso em palavras com freqüência, e sim desenvolver a consciência habitual e a convicção de que está completamente em Suas mãos e de que o Seu amor está cuidando em tudo de você, que não precisa preocupar-se demais com coisa alguma — passada, presente ou futura —, desde que esteja tentando sinceramente fazer o que Ele parece lhe pedir. E, claro, com isso me refiro apenas ao que é exigido pelas óbvias necessidades do momento, tais como os deveres de estado, as pessoas com quem se encontra, os acontecimentos a serem enfrentados, as doenças, os erros, etc. ‘Quando faminto, coma; quando cansado, durma’.”

The Hidden Ground of Love, de Thomas Merton
Editado por William H Shannon
(Farrar, Straus & Giroux, New York), 1985. p. 526
Reflexão da semana 14-02-2005

07 fevereiro 2005

Lançando fora o temor

“ A finalidade da Quaresma não é só expiação para satisfazer a justiça divina; é, sobretudo, uma preparação para nos alegrarmos em seu amor. E essa preparação consiste em receber o dom de sua misericórdia — dom que recebemos na medida em que lhe abrimos nosso coração, lançando fora o que não pode permanecer juntamente com a misericórdia.

Ora, uma das primeiras coisas que devemos lançar fora é o temor. O temor estreita ainda mais a pequena entrada de nosso coração, diminui nossa capacidade de amar. Resfria nossa capacidade de nos darmos. Se estivéssemos aterrorizados diante de Deus como diante de um juiz inexorável, não esperaríamos, confiantes, sua misericórdia, nem nos aproximaríamos dele confiantemente, na oração. Nossa paz, nossa alegria, na Quaresma, são uma garantia da graça.”

Seasons of Celebration, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux, New York), 1965. p. 116
No Brasil: Tempo e Liturgia, (Editora Vozes, Petrópolis), 1968. p. 120-121
Reflexões da semana de 7-02-2005