28 dezembro 2009

Que cresçam no amor e que se alegrem!

[Carta circular aos amigos, 1968]
“Já escrevi mais do que pretendia. Que Deus os abençoe. Agradeço sua amizade e suas notícias. Tudo de bom. Que o entendimento que têm sobre a vida se aprofunde, que sua liberdade cresça e que permaneça cada vez mais independente das forças que tentam dominar e padronizar nossas vidas em uma imensa futilidade. Que cresçam no amor e que se alegrem!”

The Road to Joy, Letters
, de Thomas Merton
Editado por Robert E. Daggy

(Farrar, Straus, Giroux Publishers, New York ), 1989, p. 111
Reflexão da semana de 28-12-2009

Um pensamento para reflexão
: “Bênçãos e alegrias no Ano Novo. Rezem pela paz em nosso país e no exterior. Que o Senhor leve paz a seus corações e que tenham sempre alegria. Que Deus permaneça em vocês.”

The Road to Joy, Thomas Merton

21 dezembro 2009

O Natal: uma festa séria!

[Carta Circular, Advento-Natal de 1967]
“Vivemos tempos difíceis. Clamam por coragem e fé. Fé, afinal, é uma virtude solitária. Solitária, especialmente quando uma profunda e autêntica comunidade de amor não se mostra presente e permanece como uma tarefa a ser reiniciada muitas vezes... O amor não é algo que ganhemos da Santa Igreja como se fôssemos uma criança se alimentando no seio da mãe: também tem de ser doado. Não receberemos amor se não formos capazes de oferecê-lo.

O Natal, portanto, não é apenas um doce retorno ao leite materno e à infância. É uma festa séria e, algumas vezes, difícil. Difícil particularmente se, por motivos psicológicos, não conseguimos assimilar seu indestrutível cerne de esperança nele contido. Se estivermos buscando apenas uma pequena consolação, poderemos nos desapontar.”

The Road to Joy, Letters, de Thomas Merton
Editado por Robert E. Daggy
(Farrar, Straus, Giroux Publishers, New York ), 1989, p. 108

Reflexão da semana de 21-12-2009

Um pensamento para reflexão: “Oremos uns pelos outros, e nos amemos de verdade na sobriedade de uma sincera esperança cristã, porque a esperança, como diz Paulo, não nos ilude. Um santo e alegre Natal para todos vocês.”
The Road to Joy, Thomas Merton

14 dezembro 2009

Por que sou monge


[Carta a Margaret Randall, junho de 1967]
“De vez em quando alguém se pergunta por que sou monge, e não quero estar sempre justificando a idéia de ser monge, porque senão fico com a falsa idéia de que sou monge. Quando entrei aqui, talvez eu acreditasse que era monge, e continuei assim por cinco, dez, quinze anos, permitindo-me até vir a ser mestre de noviços e dizer a outros como é ser monge. Não é mais assim. Não tenho nada a dizer sobre esta instituição, a não ser que me pergunto se tem algum futuro, pelo menos tal como é hoje, e agora também não faço mais tanto parte dela. 

Vivo sozinho no bosque e, na medida do possível, tenho-me esquivado tanto da instituição monástica quanto da instituição civil. Claro que isso também é uma ilusão. Mas, no que me diz respeito, a pergunta ‘por que você tem de ser monge?’ é como a pergunta ‘por que você tem de morar em Nebraska?’ Não sei. Deve ser karma, imagino. Aqui estou eu, e, por um lado, não seria fisicamente fácil para mim estar em outro lugar; mas, por outro lado, tenho o que quero: certa quantidade de distância, silêncio, perspectiva, meditação, espaço para fazer as coisas que sei que preciso fazer. Eu enlouqueceria se tentasse fazê-las na cidade…”


The Courage for Truth: Letters to Writer
s, de Thomas Merton.

Editado por Christine M. Bochen
(Farrar, Straus & Giroux, New York) 1993, p. 220
Reflexão da semana de 14-12-2009

Um pensamento para reflexão
: “Esta vida é mais comum do que você pensa, e também me pergunto se estou mais fora da vida ou mais dentro dela. Para mim, o bosque é vida.”

The Courage for Truth, Thomas Merton

07 dezembro 2009

Canção para Ninguém


Recordando Thomas Merton, que faleceu 41 anos atrás, no dia 10 de dezembro de 1968, por ter-nos dado a vislumbrar uma certa maneira especial de estar vivo.

Canção para Ninguém



Flor amarela
(Luz e espírito)
Canta sozinha
Para Ninguém.

Espírito de ouro
(Luz e vazio)
Canta sozinho
Sem uma palavra.

Que ninguém toque este suave sol
Em cujo escuro olhar
Alguém desperto está.

(Sem luz, sem ouro, sem nome, sem cor
E sem pensar:
Totalmente desperto!)

Céu de ouro
Canta sozinho
Para ninguém
.


Selected Poems of Thomas Merton
(New Directions, Inc., New York), p. 135

Reflexão da semana de 07-12-2009
Um pensamento para reflexão: “Quer te digas interessado ou não no amor, basta estares vivo para que te diga respeito, porque o amor não é apenas algo que te acontece: é uma certa maneira especial de estar vivo.”
Amor e vida, Thomas Merton




A Song For Nobody


A yellow flower
(Light and spirit)
Sings by itself
For Nobody.


A golden spirit
(Light and emptiness)
Sings without a word
By itself.


Let no one touch this gentle sun
In whose dark eye
Someone is awake.


(No light, no gold, no name, no color
And no thought:
O, wide awake!)


A gold heaven
Sings by itself
A song to nobody.

30 novembro 2009

Não queremos ser iniciantes

“Só é possível começar a encarar as reais dificuldades da vida de oração e meditação se você primeiro aceitar de forma cabal que é um iniciante e de fato sentir que sabe pouco ou nada, e que precisa desesperadamente aprender os rudimentos. Os que desde o início pensam que ‘sabem’, na verdade nunca chegarão a saber nada.”

Contemplative Prayer, de Thomas Merton
(Doubleday & Company, Garden City, NY) 1969, p. 37
Reflexão da semana de 30-11-2009

Um pensamento para reflexão: “Não queremos ser iniciantes. Mas devemos nos convencer do fato de que nunca seremos outra coisa além de iniciantes a vida inteira!”
Contemplative Prayer, Thomas Merton

23 novembro 2009

Gratidão

“Ser grato é reconhecer o amor de Deus em tudo que Ele nos deu – e deu-nos tudo. Cada respiração é um dom do seu amor, cada momento de existência é uma graça, pois traz consigo graças imensas de Deus. A gratidão, portanto, nada considera como devido, nunca deixa de corresponder, a cada instante desperta para novas maravilhas e para o louvor da bondade de Deus.”

Thoughts in Solitude, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux Publishers, New York), 1958. p. 33
No Brasil: Na liberdade da solidão, (Editora Vozes, Petrópolis), 2001. p. 36
Reflexão da semana de 23-11-2009

Um pensamento para reflexão
: “Nosso conhecimento de Deus é aperfeiçoado pela gratidão: somos gratos e nos rejubilamos com a experiência da verdade de que Ele é amor.”
Na liberdade da solidão, Thomas Merton

16 novembro 2009

Liberdade e esperança

“Só somos perfeitamente livres quando vivemos em pura esperança. Pois quando é pura, nossa esperança não mais confia em meios humanos e visíveis, nem repousa em qualquer fim visível. Quem espera em Deus, acredita que Deus, que ele nunca vê, o conduz à posse de bens que ultrapassam toda imaginação.”

No Man is an Island, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, New York), 1983. p. 14
No Brasil: Homem Algum é uma Ilha, (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 28
Reflexão da semana de 16-11-2009

Um pensamento para reflexão: “A esperança é o portal da contemplação, porque a contemplação é uma experiência das coisas divinas e não podemos experimentar o que não possuímos de algum modo.”
Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton

09 novembro 2009

Disposição de ouvir e de ser paciente

[Carta circular, Domingo da Septuagésima, 1967]
“Afinal de contas, também não sou arrogante? Não sou irracional, injusto, exigente, desconfiado e muitas vezes bastante arbitrário ao tratar com os outros? A questão não está só em ‘quem tem razão’, mas sim ‘não julgai’, ‘perdoai-vos uns aos outros’ e ‘carregai os fardos uns dos outros’. Isto não significa, de modo algum, submissão passiva e obediência cega, e sim disposição de ouvir, de ser paciente. Esta é a nossa tarefa.”

The Road to Joy, Letters
, de Thomas Merton
Editado por Robert E. Daggy
(Farrar, Straus, Giroux Publishers, New York ), 1989, p. 96-97
Reflexão da semana de 09-11-2009

Um pensamento para reflexão: “Cada vez mais, vejo sentido em minha relação com todos vocês, e o valor do amor que nos une, que não costuma ser expresso. Esta é a área na qual a expressão ‘união em Cristo’ é de fato mais significativa para mim.”
The Road to Joy, Thomas Merton

02 novembro 2009

As contradições na alma do homem

“Sempre existiram contradições na alma do homem. Entretanto, estas só se tornam um problema constante e insolúvel quando preferimos a análise ao silêncio. Não nos cabe resolver todas as contradições, e sim viver com elas e nos elevarmos acima delas, e considerá-las à luz de valores externos e objetivos que, por comparação, as tornam triviais.”

Thoughts in Solitude, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux Publishers, New York), 1958. p. 81
No Brasil: Na liberdade da solidão, (Editora Vozes, Petrópolis), 2001. p. 67
Reflexão da semana de 02-11-2009

Um pensamento para reflexão
: “Chega um momento em que não é mais importante provar que se tem razão, mas simplesmente viver, entregar-se a Deus e ao amor.”
The Road to Joy, Thomas Merton

26 outubro 2009

As coisas se resolvem...

[Carta de Natal, 1966]
“Apesar do que tem de sofrer, a maioria das pessoas está muito melhor do que avalia. Contudo, o coração do homem pode estar repleto de muita dor mesmo quando, exteriormente, está ‘tudo bem’. Isto é ainda mais difícil porque hoje estamos acostumados a pensar que tudo tem explicação. Mas não há explicação para a maior parte do que acontece em nossos próprios corações, e não podemos dar conta de tudo isso. Não adianta recorrer a algo que tranquilize nossa mente, como até as explicações religiosas às vezes oferecem. A fé precisa ser mais profunda do que isso, enraizar-se no desconhecido e no abismo de escuridão que é o solo do nosso ser. Não adianta provocar a escuridão para tentar dali suscitar respostas. Mas, se aprendermos a ter paciência interna profunda, as coisas se resolvem, ou, se você preferir dizer assim, Deus as resolve; mas não espere ver de que maneira. Só aprenda a esperar, faça o que puder e ajude as outras pessoas.”

The Road to Joy, Letters, de Thomas Merton
Editado por Robert E. Daggy
(Farrar, Straus, Giroux Publishers, New York ), 1989, p. 90
Reflexão da semana de 26-10-2009

Um pensamento para reflexão
: “Ao ajudar outra pessoa, muitas vezes encontramos a melhor maneira de suportar nossos próprios contratempos.”
The Road to Joy, Thomas Merton

19 outubro 2009

Pensar com a própria cabeça

[Carta Circular, 1963]
“Alguns podem querer saber o que eu penso da política. Acho que nós, cidadãos dos Estados Unidos, como nação, devemos empenhar-nos mais seriamente em agir como adultos e pensar de forma proporcional ao nosso tamanho. Para tanto, muita gente que nunca pensou sobre nada sério na vida vai ter de acordar e começar a pensar sobre suas responsabilidades morais e políticas.”

The Road to Joy, Letters
, de Thomas Merton

Editado por Robert E. Daggy
(Farrar, Straus, Giroux Publishers, New York ), 1989, p. 90
Reflexão da semana de 19-10-2010

Um pensamento para reflexão: “Para que nos tornemos uma nação seriamente política, as pessoas precisam pensar com a própria cabeça.”
The Road to Joy, Thomas Merton

12 outubro 2009

O significado da vida contemplativa

[Carta Circular, 1963*]
“As pessoas muitas vezes me perguntam por que estou aqui [em Getsêmani], e o que a vida contemplativa significa para mim. Para mim, significa a procura da verdade e de Deus. Significa encontrar o verdadeiro significado da minha vida, e meu lugar certo na criação de Deus. Significa renunciar à maneira como se vive no ‘mundo’ e que, para mim, é fonte de ilusões, confusão e enganos."

*Em certo momento da sua vida no mosteiro Merton passou a usar um expediente para manter contato com o grande número de pessoas com quem costumava se corresponder regular ou ocasionalmente: começou a redigir “cartas circulares” mimeografadas que enviava a dezenas de destinatários ao mesmo tempo, muitas vezes com uma pequena nota pessoal manuscrita sobre a cópia da carta.

The Road to Joy, Letters, de Thomas Merton
Editado por Robert E. Daggy
(Farrar, Straus, Giroux Publishers, New York ), 1989, p. 89
Reflexão da semana de 12-10-2010

Um pensamento para reflexão: “Há caminhos de todo tipo para Deus, e o nosso é apenas um entre muitos. Mas parece ser o meu, e é o que escolhi e aceitei como vontade de Deus.”
The Road to Joy, Thomas Merton

05 outubro 2009

Rezamos para sermos ouvidos


“Não rezamos por rezar, mas para sermos ouvidos. Não rezamos para ouvir-nos rezando, mas para que Deus possa nos ouvir e responder. E não rezamos para receber qualquer resposta: tem de ser a resposta de Deus.”

Thoughts in Solitude, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux Publishers, New York), 1958. p. 104
No Brasil: Na liberdade da solidão, (Editora Vozes, Petrópolis), 2001. p. 81
Reflexão da semana de 05-10-2009

Um pensamento para reflexão: “O solitário, se for uma [pessoa] de oração, chegará a conhecer a Deus ao saber que sua oração tem sempre resposta.”
Na liberdade da solidão, Thomas Merton.

28 setembro 2009

Orgulho, poder e vingança

[Carta sobre a Guerra Fria No. 27, janeiro de 1962]
“Muitos católicos cometem o erro de pensar que os problemas de nosso tempo são muito claramente definidos, que não há dificuldade alguma em ver a verdade, e que, dado que a causa justa é muito evidente, só precisamos aplicar a força para obter justiça. Mas é precisamente a ilusão de que é tudo ‘claro’ que está nos cegando a todos. Trata-se de uma grave tentação, e uma forma sutil de orgulho e amor mundano pelo poder e pela vingança.”

Witness to Freedom: Letters in Times of Crisis
, de Thomas Merton
Editado por William H. Shannon
(Farrar, Straus & Giroux, New York), 1994, p. 79.
Reflexão da semana de 28-09-2009

Um pensamento para reflexão
: “Parece-me que as trevas que o perturbaram, e as mesmas trevas que hoje afligem muitas pessoas boas e almas de oração, provêm de uma fonte muito séria. Sem querer estar em conflito com a verdade e com a vontade de Deus, estamos, na verdade, indo contra a vontade de Deus e seus ensinamentos.”
Witness to Freedom, Thomas Merton

21 setembro 2009

Tudo é Amor

“Onde está o silêncio? Onde a solidão? Onde o Amor? Em última instância, não podem ser encontrados em lugar algum a não ser no fundamento de nosso próprio ser. Há perfeita paz, porque estamos alicerçados no Amor infinito, criativo e redentor.”

Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Harcourt, Inc., Orlando, Florida) 1979, p. 20
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2.004. p. 21

Reflexão da semana de 21-09-2009

Um pensamento para reflexão: “Todas as palavras, então, dizem apenas: tudo é Amor.”
Amor e Vida, Thomas Merton

14 setembro 2009

A vida em si é imperfeita

“É impossível deixar de cometer erros em quase tudo que fazemos. Mas e daí? A vida não é uma questão de obter algum resultado de cada coisa. A vida em si é imperfeita. Todos os seres criados começam a morrer assim que começam a viver, e ninguém espera que nenhum deles se torne absolutamente perfeito, e menos ainda que assim permaneça. Cada coisa em particular é só um esboço da perfeição específica planejada para sua espécie. Por que deveríamos pedir algo mais do que isso?”

No Man is an Island, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, New York), 1983. p. 128-129
No Brasil: Homem Algum é uma Ilha, (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 118

Reflexão da semana de 14-09-2009

Um pensamento para reflexão: “A solidão é tão necessária, tanto para a sociedade quanto para o indivíduo, que, quando a sociedade não consegue proporcionar solidão suficiente para o desenvolvimento da vida interior das pessoas que a compõem, estas se rebelam e procuram falsas solidões.”

Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton


07 setembro 2009

Não havia ninguém para me confortar

“Na comunhão, quando fui me aproximando do altar para tomar o cálice, eles cantaram a antífona: ‘Não havia ninguém para me confortar.’ A solidão absoluta de Cristo. Aconteceu de eu olhar para cima e, lá na minha frente, o Irmão que denunciou meus telefonemas [para Margie] estava recebendo a hóstia. Um cara comum, simples, honesto, obviamente com a melhor das intenções do mundo. Tenho de dizer ‘eu o perdôo’? Mas será que, para começo de conversa, estou zangado com ele? Seria como zangar-se com uma árvore. Seria absurdo até pensar em perdoá-lo. Perdôo a estrada principal porque ela não me leva a Louisville hoje para ver o Sr. Coisa Certa? Errado? Ele fez o que achou que tinha de fazer. O Abade fez (alegremente) toda a negação que achou que tinha de fazer. Toda a alegre privação, todas as garantias de que sabe o quanto estou sofrendo. O quanto estou sofrendo? Diga-me que estou sofrendo, que estou meio morto, que estou coberto de sangue, que fui quase destruído, que estou péssimo, etc., etc.. O que eles acham do sofrimento dela? Não entra na cabeça deles. Portanto, não posso levar a sério o que eles fingem dizer sobre o meu sofrimento. É só que eles estão ansiosos.”

Learning to Love, Journals Volume 6
, de Thomas Merton.
Editado por Christine M. Bochen
(HarperSanFrancisco, San Francisco) 1997, p. 303-304.

Reflexão da semana de 07-09-2009

Um pensamento para reflexão: “A total solidão de Cristo. Não estou dizendo que a minha solidão é Dele. E ainda menos que entendo sobre a Dele. Só que é TOTAL.”
Learning to Love, Thomas Merton

31 agosto 2009

A Vitória é certa!

[Carta a Czeslaw Milosz, fevereiro de 1959]
Milosz, a vida está do nosso lado. O silêncio e a Cruz são forças que não podem ser derrotadas. No silêncio e no sofrimento, no esforço doloroso em ser honesto e em meio à desonestidade – sobretudo nossa própria desonestidade: em tudo isto há vitória. É Cristo em nós que nos guia pela escuridão em direção a uma luz inconcebível para nós e que só pode ser encontrada passando pelo aparente desespero. Tudo tem de ser testado. Todas as relações têm de ser provadas. Todas as lealdades têm de passar pelo fogo. Muito tem de ser perdido. Muito em nós tem de ser morto, inclusive muito do que em nós é melhor. Mas a Vitória é certa.”

The Courage for Truth: Letters to Writers, de Thomas Merton.
Editado por Christine M. Bochen
(Farrar, Straus & Giroux, New York) 1993, p. 57-58.
Reflexão da semana de 31-08-2009

Um pensamento para reflexão
: “A Ressurreição é a única luz, e com essa luz não há erro.”
The Courage for Truth, Thomas Merton

24 agosto 2009

Amor e solidão

“Só sei que aqui estou, e que o vale está muito silencioso, o sol está se pondo, não há um único ser humano à vista e, à medida que o escuro toma conta, eu poderia me tornar uma pessoa completamente esquecida, como se não existisse para o mundo. (Embora haja alguém que se lembra e de quem me lembro.) Poderia muito bem chegar um dia em que eu fosse invisível como se nunca tivesse existido, embora vivesse aqui no alto deste monte... E sei que ficaria perfeitamente satisfeito assim.

Quem pode saber alguma coisa sobre solidão se não tiver amado, e amado em sua solidão? O amor e a solidão precisam testar um ao outro no homem que tem a intenção de viver só: devem tornar-se uma só coisa nele, se não ele será apenas meia pessoa. Se eu não te tiver sempre comigo, de modo muito silencioso e perfeito, nunca serei capaz de viver sozinho de modo fecundo.”

Learning to Love, Journals Volume 6, de Thomas Merton.
Editado por Christine M. Bochen
(HarperSanFrancisco, San Francisco) 1997, p. 314-315.
Reflexão da semana de 24-08-2009

Um pensamento para reflexão
: “Estás vendo como te tornaste necessária para mim? Não posso nem ser eremita sem ti!”
Learning to Love, Thomas Merton

17 agosto 2009

Silêncio monástico: um protesto!

“O mosteiro não é um lugar para se ‘fugir’ do mundo. Ao contrário: estando no mosteiro, assumo minha verdadeira participação em todas as lutas e sofrimentos do mundo. O fato de adotar uma vida que é essencialmente não-assertiva, não-violenta, uma vida de humildade e paz, é, em si, uma declaração da própria posição.”

Honorable Reader, de Thomas Merton.
Citado em In My Own Words

(Liguori Press, Liguori, MO) 2007, p. 107.
Reflexão da semana de 17-08-2009

Um pensamento para reflexão: “Faço do silêncio monástico um protesto contra as mentiras de políticos, propagandistas e agitadores...”
In My Own Words, Thomas Merton

10 agosto 2009

O que é a solidão

“Solidão como ato: o motivo pelo qual ninguém entende a solidão, ou nem se dá ao trabalho de entendê-la, é que, aparentemente, ela é apenas uma condição. Algo que se escolhe suportar, como uma ducha fria. Na verdade, a solidão é uma realização, uma concretização, até mesmo uma espécie de criação, bem como uma liberação de forças ativas dentro de nós, forças que são mais do que nossas próprias, e, contudo, mais nossas do que o que parece ser ‘nosso’. Como mera condição, a solidão pode ser passiva, inerte e basicamente irreal: uma espécie de coma permanente. É preciso trabalhar a solidão para mantê-la fora dessa condição. É preciso trabalhar a solidão ativamente, não construindo cercas ao redor de si, mas destruindo todas as cercas, jogando fora todos os disfarces e descendo até a raiz nua dos próprios desejos mais interiores, que é o desejo de liberdade–realidade. Ser livre da ilusão que a realidade cria quando se tem uma relação distorcida com ela, e for real na liberdade que a realidade dá quando se tem uma relação correta com ela.”

Learning to Love, Journals Volume 6, de Thomas Merton.
Editado por Christine M. Bochen
(HarperSanFrancisco, San Francisco) 1997, p. 320-321.

Reflexão da semana de 10-08-2009

Um pensamento para reflexão: “Daí a necessidade de disciplina, de alguma técnica de integração que mantenha corpo e alma juntos, harmonize suas potências, coloque-os em profunda ressonância, oriente a totalidade do ser para a raiz do ser. A necessidade de um ‘caminho’. Presença, invocação, mantra, concentração, vazio. Todos estes são aspectos de uma solidão realizada. Só estar sozinho não é nada. Ou, pelo menos, é apenas um potencial. Mais cedo ou mais tarde, quem está apenas sozinho ou apodrece ou foge.”
Learning to Love, Thomas Merton

03 agosto 2009

Um livro impublicável

[Carta a Jacques Maritain, fevereiro de 1963]
“Não quero importuná-lo com uma grande quantidade de minhas coisas, mas estou postando um exemplar mimeografado de meu livro ‘impublicável’ sobre ‘Paz na Era Pós-Cristã’*. Impublicável porque proibido por nosso corretíssimo Abade Geral que não quer deixar a civilização cristã sem a bomba para coroar sua história de honra. Ele sabe que minha defesa da paz fausserait le message de la vie contemplative [falsificaria a mensagem da vida contemplativa]. O fato de um monge preocupar-se com este problema é considerado – pelos ‘bons monges’ – escandaloso. Uma distração odiosa que afasta a atenção do Menino Jesus no Berço. É estranho dizer, mas ninguém parece preocupado com o fato de que o berço está diretamente sob a mira da bomba.”

The Courage for Truth: Letters to Writers, de Thomas Merton
Editado por Christine M. Bochen
(Farrar, Straus & Giroux, New York) 1993), p. 36.
Reflexão da semana de 03-08-2009

Um pensamento para a Reflexão
: “Rezemos uns pelos outros e pelo mundo, e que Deus tenha piedade de nós e nos dê a luz que tanto necessitamos, a força, a paciência e todas as outras coisa que, pelo menos a mim, fazem total falta. Pareço completamente esvaziado de tudo.”
The Courage for Truth, Thomas Merton
*Este livro foi publicado em 2004 e traduzido para o português (Ed. Santuário) em 2008.

27 julho 2009

Os Cistercienses

“Os Cistercienses (sobre quem nos estenderemos em outro capítulo) representam a fina flor da espiritualidade e misticismo monásticos medievais. [Seu] misticismo era bíblico, centrado no mistério de Cristo, um misticismo tradicional, centrado na antiga maneira transmitida por Cassiano, por São Gregório o Grande e pelos Beneditinos, com generoso acréscimo do melhor de Agostinho e de alguns notáveis traços de Dionísio. [Era] uma escola de experiência, na qual a experiência pessoal não é tanto analisada e dissecada, e sim plena e poeticamente expressa nas imagens e termos tradicionais das Escrituras. Daí o caráter do misticismo Cisterciense ser o de reviver os mistérios das Escrituras na vida pessoal de cada um, sem subjetivismo indevido.”

An Introduction to Christian Mysticism, de Thomas Merton.
Editado por Patrick F. O'Connell
(Cistercian Publications, Kalamazoo, MI) 2008, p. 171.
Reflexão da semana de 27-07-2009

Um pensamento para reflexão
: “[O misticismo Cisterciense era] uma escola de amor, centrada na idéia da recuperação da semelhança perdida com Deus, na restauração da imagem que está em nós por natureza.”
An Introduction to Christian Mysticism, Thomas Merton

20 julho 2009

Escolhendo um pai espiritual

“Só ler livros e seguir as orientações escritas por mestres do passado não substitui o contato direto com um orientador vivo. O Mestre não se limita a admoestar ou instruir. Tem de conhecer e analisar os mais íntimos pensamentos do discípulo. A parte mais importante da direção é a abertura com que o discípulo manifesta ao Pai Espiritual não só seus atos, mas todos os seus pensamentos.”


Contemplation in a World of Action
, de Thomas Merton

(Doubleday, Garden City, NY), 1971. p. 299
No Brasil: Contemplação num Mundo de Ação (Ed. Vozes, Petrópolis), 1975, p. 261
Reflexão da semana de 20-07-2009


Um pensamento para reflexão: “O monge deve ter a liberdade de escolher seu próprio pai espiritual, é claro. Mas estará apenas se iludindo se escolher um mestre que jamais lhe diga algo além do que ele quer ouvir, e nunca lhe ordene nada contra sua própria vontade.”
Contemplação num mundo de ação, Thomas Merton

13 julho 2009

A verdade que já possuímos

“A vida é, ou deveria ser, apenas uma luta para procurar a verdade. No entanto, o que de fato procuramos é a verdade que já possuímos. A verdade é minha na realidade da vida assim como me é dada a viver. Entretanto, receber a vida de forma irrefletida, passiva – tal como se apresenta – é renunciar à luta e à purificação necessárias. Não é possível simplesmente abrir os olhos e ver. O trabalho de compreender envolve não só dialética, como também um longo trabalho de aceitação, obediência, liberdade e amor.”

Conjectures of a Guilty Bystander, de Thomas Merton
(Doubleday, New York), 1966. p. 184
No Brasil: Reflexões de um espectador culpado, (Editora Vozes, Petrópolis), 1970. p. 212-213
Reflexão da semana de 13-07-2009

Um pensamento para reflexão
: “Muita virtude e piedade é simplesmente o preço fácil que pagamos para justificar uma vida essencialmente cheia de bagatelas. Nada é mais barato do que a evasão comprada por uma conduta apenas suficientemente boa para que passemos por uma ‘pessoa séria’.”
Reflexões de um espectador culpado, Thomas Merton

06 julho 2009

Unindo-se a Deus na nossa criação

“Nossa vocação não consiste simplesmente em estar em união com Deus, mas em assim trabalhar na criação de nossa própria vida, nossa identidade, nosso destino. Somos seres livres e filhos e filhas de Deus. Isso quer dizer que não temos de existir passivamente, e sim, ao escolher a verdade, participar ativamente de Sua liberdade criativa em nossa vida e na vida dos outros. Melhor dizendo, somos até chamados a partilhar com Deus o trabalho de criar a verdade de nossa identidade. (…) Encontrar a nossa própria identidade em Deus, que a Bíblia chama de ‘operar nossa salvação’, é um trabalho que requer sacrifício e angústia, risco e muitas lágrimas. Exige atenção rigorosa à realidade a cada instante, e grande fidelidade a Deus à medida que Ele se revela, obscuramente, no mistério de cada nova situação.”

New Seeds of Contemplation, de Thomas Merton
(New Directions, New York), 1961. p. 32
No Brasil: Novas Sementes de Contemplação, (Editora Fissus, Rio de Janeiro
), 2001. p. 40
Reflexão da semana de 06-07-2009

Um pensamento para reflexão
: “Não sabemos claramente de antemão qual será o resultado desse trabalho. O segredo de minha identidade plena está oculto Nele. Só ele pode tornar-me quem sou, ou melhor, quem serei quando por fim , começar a ser plenamente.”
Novas Sementes de Contemplação, Thomas Merton

29 junho 2009

Só poderemos ser santos se formos humanos

“Vir para o mosteiro foi, para mim, exatamente o tipo certo de retirada. Deu-me uma perspectiva. Ensinou-me a viver. E agora devo a todas as outras pessoas do mundo uma parte dessa vida. Meu primeiro dever é começar, pela primeira vez, a viver como membro da espécie humana, que não é mais (nem menos) ridícula do que eu mesmo. E meu primeiro ato humano é reconhecer o quanto devo a todas as outras pessoas.”

Entering the Silence, Journals volume 2, de Thomas Merton
Editado por Jonathan Montaldo
(HarperSanFrancisco, San Francisco), 1997, p. 451.
Reflexão da semana de 29-06-2009

Um pensamento para reflexão: “Mas o mundo foi feito por Deus e é bom, e, se o mundo não for nossa mãe, não poderemos ser santos, porque só poderemos ser santos se formos, antes de tudo, humanos.”
Entering the Silence, Thomas Merton

22 junho 2009

O Deus feito de palavras e sentimentos

“Temos uma máscara externa, superficial, que juntamos às palavras e às ações que não representam plenamente tudo o que há em nós; assim também, até as pessoas de fé tratam com um Deus feito de palavras, sentimentos e slogans reconfortantes, menos o Deus da fé do que o produto de rotinas sociais e religiosas. Esse ‘Deus’ pode tornar-se um substituto da verdade do Deus invisível da fé, e, embora essa imagem reconfortante possa parecer-nos real, ela é realmente uma espécie de ídolo. Sua função principal é proteger-nos contra um encontro profundo com nosso verdadeiro eu interior e com o verdadeiro Deus.”

Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 42
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2.004. p. 44
Reflexão da semana de 22-06-2009

Um pensamento para reflexão
: “(…) A intuição contemplativa da realidade é uma percepção de valor: não uma percepção intelectual ou especulativa, mas prática e vivencial. Não se trata apenas de observar, mas de dar-se conta. Não é algo abstrato e geral, mas concreto e particular. É uma compreensão pessoal do sentido e do valor existenciais da realidade.”
A Experiência Interior, Thomas Merton

15 junho 2009

Penetrar no mistério da verdade

“A contemplação ativa se nutre da meditação, da leitura e, como veremos, da vida sacramental e litúrgica da Igreja. Mas, antes de se transformarem em contemplação, a leitura, a meditação e a adoração precisam fundir-se em uma visão intuitiva e unificada da realidade.

Na leitura, por exemplo, passamos de um pensamento a outro, seguimos o desenvolvimento das idéias do autor e, se lermos bem, contribuímos com algumas idéias próprias. Essa atividade é discursiva. A leitura se torna contemplativa quando, em vez de raciocinar, abandonamos a seqüência dos pensamentos do autor, não só para seguir nossos próprios pensamentos (meditação), mas simplesmente para erguer-nos acima do pensamento e penetrar no mistério da verdade, que é vivido intuitivamente como presente e real.

The Inner Experience, de Thomas Merton
Editado por William H. Shannon
(HarperSanFrancisco, San Francisco) 2003, p. 59.
No Brasil: A Experiência Interior, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2007. p. 84-85.
Reflexão da semana de 15-06-2009

Um pensamento para reflexão
: “A intuição contemplativa da realidade é uma percepção de valor: não uma percepção intelectual ou especulativa, mas prática e vivencial. Não é só uma questão de observar, mas de dar-se conta. Não é algo abstrato e geral, mas particular e concreto. É uma captação pessoal do sentido e valor existencial da realidade.”
A Experiência Interior, Thomas Merton

08 junho 2009

Aprenda a meditar, contemplar, orar…

“Aprenda a meditar sobre o papel. Desenhar e escrever são formas de meditação. Aprenda a contemplar as obras de arte. Aprenda a orar nas ruas ou nos campos. Saiba meditar não só quando você tem um livro em mãos, mas também enquanto espera um ônibus ou viaja de trem. Penetre, sobretudo, na liturgia da Igreja e faça do ciclo litúrgico uma parte de sua vida — deixe que seu ritmo invada o seu corpo e a sua alma.”

New Seeds of Contemplation, de Thomas Merton
(New Directions, New York), 1961. p. 216
No Brasil: Novas Sementes de Contemplação, (Editora Fissus, Rio de Janeiro), 2001. p. 212
Reflexão da semana de 08-06-2009

Um pensamento para reflexão
: “Quem só sabe pensar em Deus em períodos fixos do dia jamais irá muito longe na vida espiritual.”
Novas Sementes de Contemplação, Thomas Merton

01 junho 2009

Quem é o inimigo e quem somos nós?

“As pessoas não são conhecidas apenas pelo seu lado intelectual ou seus princípios, mas principalmente pelo amor. Quando amamos o próximo, o inimigo, aí então obtemos de Deus a chave para uma compreensão de quem seja nosso inimigo e de quem somos nós. É unicamente isto que poderá revelar-nos a natureza real dos nossos deveres e das nossas retas ações.

Quando ignoramos a pessoa e recusamos considerá-la como tal, como um outro eu, estamos lançando mão do ‘direito’ e da ‘natureza’, em sentido impessoal. Em outras palavras, estamos bloqueando a realidade do outro, estamos cortando a intercomunicação da nossa natureza com a dele, e consideramos apenas a nossa natureza, individual, com seus direitos, suas prerrogativas, suas exigências. De fato, contudo, estamos considerando a nossa natureza no concreto e a dele no abstrato. E assim justificamos o mal que fazemos a nosso próximo, pois ele não é considerado mais como um irmão, mas apenas como um adversário, um réu, um ente maligno.

Para restaurar a comunicação, para ver a nossa unidade de natureza com a dele, respeitar os seus direitos pessoais, a sua integridade e o direito de ser amado, temos também de nos encarar como réu, como ele, de sermos condenados à morte com ele, mergulhando no mesmo abismo que ele, necessitando, também como ele, do dom inefável da graça e da misericórdia, de maneira a sermos salvos.”

Seeds of Destruction, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux, New York), 1964. p. 254-255
No Brasil: Sementes de Destruição, (Editora Vozes, Petrópolis), 1966. p. 252-253
Reflexão da semana de 01-06-2009

Um pensamento para reflexão
: “O ponto principal na ética cristã é olhar a pessoa e não a natureza. (…) Porque, quando nós consideramos o que seja ‘a natureza’ temos em mente o geral, o teórico, e deixamos de lado o concreto, o individual, a realidade pessoal daquele que se nos defronta. Daí então vermos essa outra pessoa não como o nosso outro eu, não como um Cristo, mas sim como o nosso demônio, o nosso animal maligno, o nosso pesadelo.”
Sementes de Destruição, Thomas Merton

25 maio 2009

A preparação para a vida contemplativa

“Isso nos dará alguma idéia do tipo de preparação necessária à vida contemplativa. É uma vida calma, no campo, em contato com o ritmo da natureza e com as estações. Uma vida na qual há trabalho manual, exercício de artes e ofícios, não em espírito diletante, mas realmente ligadas às necessidades da vida de cada um. Cultivo da terra, criação de animais, jardinagem. Uma vasta e séria cultura literária, musical e artística, também não no sentido da revista Time and Life (uma introdução tagarela a Ticiano, a Praxíteles e Jackson Pollock), mas uma apreciação autêntica e criativa do modo como poemas, quadros, etc., são feitos. Uma vida na qual há lugar para conversas sérias, mas pouco ou nenhum espaço para a TV. Mencionamos essas coisas não para insistir em que só a vida no campo pode preparar para a contemplação, mas para mostrar o tipo de exercício necessário.”

The Inner Experience
, de Thomas Merton
Editado por William H. Shannon
(HarperSanFrancisco, San Francisco) 2003, p. 113
No Brasil: A Experiência Interior, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2007. p. 188-189.
Reflexão da semana de 25-05-2009

Um pensamento para reflexão
: “Há outro aspecto essencial no cristianismo: o interior, o silencioso, o contemplativo, no qual a sabedoria oculta é mais importante do que a ciência prática organizacional, e no qual o amor substitui a vontade de obter resultados visíveis.”
Amor e Vida, Thomas Merton

18 maio 2009

Amor: embrulhando-o num pacote bonito

“ (…) Nossa filosofia de vida não é algo que criamos por nós mesmos do nada. Nossas maneiras de pensar, até nossas atitudes em relação a nós mesmos, são cada vez mais determinadas de fora. Até mesmo nosso amor tende a se encaixar em formas pré-fabricadas. Consciente ou inconscientemente, talhamos nossas noções de amor pelos modelos com que estamos em contato dia após dia…

O amor é considerado uma transação. A transação pressupõe que todos nós tenhamos necessidades que devem ser satisfeitas por meio de trocas. Para fazer uma transação, você tem de comparecer ao mercado com um produto de valor ou, se o produto não tem valor, você pode dar um jeito com uma embalagem bonita. Inconscientemente pensamos em nós mesmos como objetos à venda no mercado. Desejamos ser desejados. Queremos atrair clientes. Queremos ter a aparência do tipo de produto que dá dinheiro. (…) Ao fazermos isso, passamos a considerar a nós mesmos e aos outros não como pessoas, mas como produtos, ‘mercadorias’ ou, em outras palavras, embalagens. Avaliamos uns aos outros comercialmente. Mediamos uns aos outros e fazemos transações visando ao nosso próprio lucro. Não nos entregamos no amor; fazemos uma transação que valorizará nosso produto e, portanto, não há transação definitiva. Já estamos com os olhos na próxima transação – e essa próxima transação não precisa ser necessariamente com o mesmo cliente. A vida é mais interessante quando você faz muitas transações com muitos clientes novos.”

Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 29
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2.004. p. 29-31

Reflexão da semana de 18-05-2009

Um pensamento para reflexão
: “O problema dessa idéia comercializada de amor é que ela desvia cada vez mais a atenção do essencial para os acessórios do amor. Você não é mais capaz de amar realmente a outra pessoa, porque se torna obcecado pela eficácia de sua própria embalagem, por seu próprio produto, por seu próprio valor de mercado.”
Amor e Vida, Thomas Merton

11 maio 2009

A pessoa precisa ser resgatada do indivíduo

“Temos de ser salvos da imersão no mar de mentiras e de paixões denominado ‘o mundo’. Temos, sobretudo, de ser salvos desse abismo de confusão e absurdo que é o nosso próprio ser mundano. A pessoa precisa ser resgatada do indivíduo. O filho de Deus, livre, tem de ser salvo da escravidão conformista da fantasia, da paixão e da convenção. O ser íntimo – misterioso e criador – tem de ser libertado do ego esbanjador, hedonista e destruidor que procura apenas cobrir-se com disfarces.”


New Seeds of Contemplation, de Thomas Merton
(New Directions, New York), 1961. p. 38
No Brasil: Novas Sementes de Contemplação, (Editora Fissus, Rio de Janeiro), 2001. p. 46
Reflexão da semana de 11-05-2009

Um pensamento para reflexão: “Se Ele não pronunciar a Si mesmo em ti, se não disser Seu nome no centro de tua alma, não O conhecerás melhor do que uma pedra conhece o solo em que repousa em sua inércia.”
Novas Sementes de Contemplação, Thomas Merton

04 maio 2009

Travessuras de um monge

“Ontem, o Padre Celereiro [ecônomo do mosteiro] emprestou-me o jipe. Não o pedi, ele me emprestou por pura bondade de seu coração, para que eu pudesse ir até o lado mais distante das colinas. Eu nunca tinha dirigido antes... Ontem peguei o jipe e fui embora alegremente pelo bosque. Tinha chovido muito. Todos os caminhos estavam enlameados. Levei algum tempo para descobrir como acionar a tração dianteira. Derrapei e caí em valas, tornei a sair, atravessei arroios, atolei na lama, bati em árvores e uma vez, quando estava na estrada principal, o motor afogou quando eu estava tentando desengatar a tração dianteira e acabei atravessado no meio da estrada enquanto um carro descia a ladeira direto em direção a mim. Graças a Deus continuo vivo. Naquela hora eu não parecia me importar em viver ou morrer. Dirigi o jipe loucamente pelo bosque, em uma névoa rosada de confusão e delícia. Sacolejamos sobre toscas pontes de madeira e eu disse 'Oh, Maria, eu te amo' ao passar por poças de um palmo e meio de profundidade, correndo como um louco pelo mato baixo e saindo de novo.

Por fim trouxe aquela coisa de volta ao mosteiro coberta de lama de cabo a rabo. Durante as Vésperas fiquei no coro tonto com o pensamento de 'eu dirigi um jipe'.”

Entering the Silence, Journals volume 2, de Thomas Merton
Editado por Jonathan Montaldo
(HarperSanFrancisco, San Francisco), 1997, p. 387.
Reflexão da semana de 04-05-2009

Um pensamento para reflexão: “O Padre Celereiro só me fez um sinal de que nunca, em hipótese alguma, eu deveria sair outra vez com o jipe.”
Entering the Silence, Thomas Merton

27 abril 2009

O que importa está nas mãos de Deus

“A contemplação genuína não implica tensão. Não há razão alguma para que afete os nervos de quem a pratica: ao contrário, os relaxa. (…) Não há pressão na verdadeira contemplação, pois, quando o dom é verdadeiro, não dependemos dele; não somos escravizados pela ‘necessidade’ de vivenciar alguma coisa. O contemplativo não busca confirmação da confiança em si mesmo, em sua virtude, em seu estado, em sua ‘oração’. Sua confiança está em Deus, não em si mesmo. A paz e o ‘repouso’ da contemplação são frutos de uma fé viva na ação da graça divina. O contemplativo é capaz de abandonar a si mesmo e a tudo mais por saber que tudo o que realmente importa em sua vida está nas mãos de Deus; por saber que não tem de ‘pensar no amanhã’. Percebe plenamente a mensagem de salvação do Evangelho é pela graça de Deus, não depende do engenho humano.”

The Inner Experience, de Thomas Merton
Editado por William H. Shannon
(HarperSanFrancisco, San Francisco) 2003, p. 113
No Brasil: A Experiência Interior, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2007. p. 163.
Reflexão da semana de 27-04-2009

Um pensamento para reflexão: “A contemplação não dá as costas à realidade nem foge dela; vê através do ser superficial e vai além deste. Isto implica aceitar plenamente as coisas tais como elas são e avaliá-las de forma saudável.”
A Experiência Interior, Thomas Merton

20 abril 2009

O que significa a vontade de Deus?

“Se quisermos saber o que significa ‘vontade de Deus’, esta é uma forma de termos uma boa idéia. A ‘vontade de Deus’ certamente está em qualquer coisa exigida de nós para podermos estar unidos uns aos outros no amor. (…) Tudo o que me é pedido para que eu trate todas as outras pessoas efetivamente como seres humanos é ‘desejado para mim por Deus dentro da lei natural’. (…) Tenho de aprender compartilhar com os demais suas alegrias, sofrimentos, idéias, necessidades e desejos. Tenho de aprender a fazer isso não só em relação aos que são da mesma classe, profissão, raça e nação que eu, mas também quando os que sofrem pertencem a outros grupos, mesmo aos grupos considerados hostis. Fazendo isso, obedeço a Deus. Recusando-me a fazê-lo, desobedeço-Lhe. Não se trata, portanto, de coisa deixada ao capricho subjetivo.”

New Seeds of Contemplation, de Thomas Merton
(New Directions, New York), 1961. p. 76-77
No Brasil: Novas Sementes de Contemplação, (Editora Fissus, Rio de Janeiro), 2001. p. 80-81
Reflexão da semana de 20-04-2009

Um pensamento para reflexão: “ [A] contemplação é impossível para quem não tenta cultivar a compaixão para com os outros.”
Novas Sementes de Contemplação, Thomas Merton

13 abril 2009

Morrer é fruto da vida

“O homem maduro compreende que a vida afirma-se melhor não ao se adquirir coisas para si, mas ao doarem-se tempo, esforços, força, inteligência e amor a outros. Aqui começa a aparecer um tipo diferente de dialética entre vida e morte. Com o ‘fim’ de sua inclinação para a auto-satisfação e a sua reorientação em direção e para os outros, o impulso de vida, a satisfação vital transcende-se a si mesma. ‘Morre’ no que diz respeito ao ego, pois o eu é privado das satisfações imediatas que poderia reivindicar sem ser contestado. Agora renuncia a essas coisas a fim de dar a outros. Portanto, a vida ‘morre’ para si mesma no intuito de se dar e, assim, afirma-se com mais maturidade, mais fertilidade e mais plenitude. Vivemos para morrer para nós mesmos e dar tudo a outros... Esse ‘morrer’ para si mesmo a fim de dar a outros é nada mais nada menos do que uma afirmação superior e mais especial da vida. Esse morrer é fruto da vida, prova de um viver maduro e produtivo. É, de fato, a finalidade ou a meta da vida.”

Love and Living
, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 102
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2.004. p. 109
Reflexão da semana de 13-04-2009

Um pensamento para reflexão
: “A morte é, então, o ponto no qual a vida pode atingir sua realização pura. A morte leva a vida à sua meta. Mas a meta não é a morte – a meta é a vida perfeita.”
Amor e Vida, Thomas Merton

06 abril 2009

Encontrar a Terra Prometida

“Faze-me atravessar com alegria, Deus, o Teu Jordão. Lamento ter esquecido meus desejos e arder com outros desejos de terminar meu trabalho, conseguir que livros sejam distribuídos a pessoas. Mas, acima de tudo, existe apenas um desejo, que é o de encontrar a terra prometida e a liberdade de um amor puro, despreocupado de tudo que não seja o amor, despreocupado de tudo que não seja a pureza de Deus, Sua vontade, Sua glória. Paz acima da linguagem, não em algum estado esotérico, mas na divina realidade de um amor que é contemplação e ação, que adere a Deus e Nele abraça o mundo todo, na paz, na unidade.”

Entering the Silence, Journals volume 2, de Thomas Merton
Editado por Jonathan Montaldo
(HarperSanFrancisco, San Francisco), 1997, p. 177
Reflexão da semana de 06-04-2009

Um pensamento para reflexão
: “Assim, ao entrar na Semana da Paixão, minha mente está sintonizada com a Liturgia e com [as palavras proféticas de] Jeremias. Na Comunhão, é Cristo no Horto que ora em mim. Não tenho mais vontade de escrever.”
Entering the Silence, Thomas Merton

30 março 2009

Atravessando o deserto

“Na salmodia, as palavras que a Igreja coloca diante de nós destinam-se a despertar todas as forças do nosso ser e elevar-nos a Deus – ou, antes, mostrar-nos que, pela morte e Ressurreição de Cristo, estamos, naquele exato momento, em Deus, cujo Reino já veio e está esperando para ser revelado em nós, Seus filhos. Como será revelado ao mundo se não for primeiro realizado em nós, em quem as Escrituras devem ser cumpridas?”

Bread in the Wilderness, de Thomas Merton
(New Directions Publishing Corp. New York), 1953 p. 133
No Brasil: O Pão no Deserto, (Ed. Vozes, Petrópolis), 1963, p. ??
Reflexão da semana de 30-03-2009

Um pensamento para reflexão
: “Enquanto isso, estamos atravessando o deserto a caminho da Terra Prometida.”
O Pão no Deserto, Thomas Merton

23 março 2009

Simplicidade e liberdade interior

“ A vida de contemplação na ação e na pureza de coração é, portanto, uma vida de grande simplicidade e liberdade interior. Nela não se procura nada de especial, nem se demanda nenhuma satisfação em particular. Nela está-se contente com o que é. Faz-se o que tem de ser feito e, quanto mais concreto for, melhor. Não se está preocupado com os resultados do que é feito, mas se fica contente por ter bons motivos e não ficar muito ansioso com a possibilidade de errar. Desse modo, pode nadar na corrente da vida e permanecer a todo momento em contato com Deus, oculto na simplicidade do momento presente com sua tarefa óbvia.”

The Inner Experience, de Thomas Merton
Editado por William H. Shannon
(HarperSanFrancisco, San Francisco) 2003, p. 66
No Brasil: A Experiência Interior, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2007. p. 94.
Reflexão da semana de 23-03-2009

Um pensamento para reflexão: “Andar pela rua, varrer um chão, lavar pratos, escolher feijão, ler um livro, dar um passeio pela mata — tudo pode ser enriquecido pela contemplação e pelo obscuro senso da presença de Deus.”
A Experiência Interior, Thomas Merton

16 março 2009

Perdendo a fé

“ Quantas pessoas no mundo de hoje ‘perderam a fé’ junto com as esperanças vãs e as ilusões da infância? O que chamavam de ‘fé’ era só uma dentre todas as outras ilusões. Puseram toda sua esperança numa certa sensação de paz espiritual, de conforto, de equilíbrio interior e respeito por si próprios.

Quando, porém, começaram a lutar com as dificuldades reais e os fardos da vida madura, quando perceberam sua própria fraqueza, perderam a paz, abandonaram o preciso respeito por si mesmos, e se tornou impossível ‘crer’. Isto é, tornou-se impossível para eles se reconfortarem, se tranquilizarem com as imagens e os conceitos que, na infância, achavam apaziguadores.”

New Seeds of Contemplation
, de Thomas Merton

(New Directions, New York), 1961. p. 187
No Brasil: Novas Sementes de Contemplação, (Editora Fissus, Rio de Janeiro), 2001. p. 185

Reflexão da semana de 16-03-2009

Um pensamento para reflexão: “Não há esperança mais cruel do que a vã esperança em uma suprema plenitude, tão incompreendida que se torna inteiramente irrealizável. Não há mais terrível derrota do que a do coração humano ensandecido pelo desejo de uma miragem mística.”
Novas Sementes de Contemplação, Thomas Merton

09 março 2009

Ele canta em nossos corações

“ A Igreja é guiada pelo Espírito de Deus que tudo abraça em Sua infinita simplicidade. O Espírito Santo é a vida da Igreja e também fonte e motor de sua oração. O Espírito Santo reza na Liturgia e, quando oramos com a Liturgia, o Espírito Santo, o Espírito de Cristo, ora em nós. Rezando em nós, Ele nos ensina a rezar. Não só nos dá palavras para dizer e cantar, como também as canta em nossos corações. E quando, como deve inevitavelmente acontecer, não conseguimos entender ou apreciar o que as orações significam, o Espírito de Deus ‘ajuda nossa fraqueza’ perguntando em nosso nome com um fervor de infinito amor que nunca seremos capazes de compreender.”

Bread in the Wilderness, de Thomas Merton
(New Directions Publishing Corp. New York), 1953 p. 41
No Brasil: O Pão no Deserto, (Ed. Vozes, Petrópolis), 1963, p. ??
Reflexão da semana de 09-03-2009

Um pensamento para reflexão
: “Nosso progresso na vida sobrenatural, que também é a vida da oração interior, normalmente significa uma revelação progressiva de Deus a nós, em nossa alma e em todos os dons que Dele recebemos.”
O Pão no Deserto, Thomas Merton

02 março 2009

Alegria e oração

“ À tarde saí para a velha estrebaria com o Livro dos Provérbios e, na verdade, toda a Bíblia; fiquei perambulando pelo mezanino de guardar o feno, onde falta um bom pedaço do telhado. Uma das tábuas do piso, meio podre, cedeu ao meu peso e quase despenquei. Depois sentei e, olhando para as montanhas e as nuvens cinzentas, não consegui ler nada. Quando as moscas começaram a incomodar demais, passeei sem rumo pelo pasto baixo e sentei-me perto do muro lindeiro, na borda de uma banheira deteriorada que ali estava para servir de bebedouro aos cavalos. Um cano atravessa o muro e a água flui abundante para a banheira, vinda de uma fonte situada em algum lugar do bosque, e ali também não consigo ler. Apenas ouço a água límpida fluindo, olho para o estábulo caindo aos pedaços sobre a colina à minha frente e permaneço pasmado de alegria e oração.”

Entering the Silence, Journals volume 2, de Thomas Merton
Editado por Jonathan Montaldo
(HarperSanFrancisco, San Francisco), 1997, p. 363
Reflexão da semana de 02-03-2009

Um pensamento para reflexão: “Uma manhã depois da outra, tento estudar o 6º Capítulo de São João e ele é grandioso demais. Não consigo estudá-lo. Simplesmente sento quieto e tento respirar.”
Entering the Silence, Thomas Merton

23 fevereiro 2009

A atitude sagrada

“ O problema básico e mais fundamental da vida espiritual é a aceitação do nosso eu oculto e sombrio, com o qual temos a tendência de identificar todo o mal que há em nós. Devemos aprender a separar, pelo discernimento, o mal resultante de nossas ações daqueles dos bons fundamentos da nossa alma. Devemos, além do mais, preparar o terreno para que dele possa brotar uma vida nova em nós, sem nosso conhecimento e sem nosso controle consciente. A atitude sagrada é, então, uma vida de reverência, admiração e silêncio ante o mistério que começa a surgir em nós ao termos consciência do nosso eu mais profundo. Em silêncio, esperança, expectativa e desprendimento, o homem de fé abandona-se à vontade divina – não como a um poder mágico e arbitrário cujos decretos são formulados através de enigmas misteriosos – mas sim à corrente da realidade e da própria vida. A atitude sagrada é, assim, uma atitude de profundo e fundamental respeito por tudo que é real, qualquer que seja a nova forma com que se apresente.”

The Inner Experience, de Thomas Merton
Editado por William H. Shannon(HarperSanFrancisco, San Francisco) 2003, p. 55
No Brasil: A Experiência Interior, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2007. p. 78-79.
Reflexão da semana de 23-02-2009

Um pensamento para reflexão: “ Há uma ligação sutil, porém incontestável, entre a atitude ‘sagrada’ e a aceitação de nosso eu mais profundo.”
A Experiência Interior, Thomas Merton

16 fevereiro 2009

Encontrar minha alegria

“ Justifica minh’alma, ó Deus, mas que também de Tuas fontes o fogo encha minha vontade. Brilha em minha mente, o que talvez signifique ‘sê escuridão em minha experiência’, mas ocupa meu coração com tua Vida formidável. Que meus olhos neste mundo só enxerguem Tua glória, que minhas mãos nada toquem a não ser em Teu serviço. Que só prove minha língua o pão que me fortalece para louvar Tua imensa misericórdia. Ouvirei a Tua voz, ouvirei todas as harmonias que criaste ao cantares os teus hinos. Lã das ovelhas e algodão dos campos me aquecerão, e viverei ao Teu serviço; o resto, darei aos pobres. Deixa-me usar todas as coisas por uma só razão: encontrar minha alegria em dar-Te glória.”

New Seeds of Contemplation
, de Thomas Merton

(New Directions, New York), 1961. p. 44
No Brasil: Novas Sementes de Contemplação, (Editora Fissus, Rio de Janeiro), 2001. p. 50-51
Reflexão da semana de 16-02-2009


Um pensamento para reflexão: “Pois só uma coisa há que satisfaça e recompense o amor: tu, somente tu.”
Novas Sementes de Contemplação, Thomas Merton

09 fevereiro 2009

O nascimento divino dentro de nós

“ O que é que torna a vida do homem ‘divina’? Com certeza, se essa qualidade especial o caracteriza, ela deve ser, em certo sentido, reconhecível. A vida ‘divina’ caracteriza-se, de fato, por uma fé que liberta o homem de todas as formas de servidão, até, e talvez especialmente, em questões religiosas (ver Gálatas passim). Essa fé o coloca sob a orientação direta do Espírito Santo de amor que vive na Igreja de Deus. O homem ‘divino’, ou ‘o filho de Deus’, é então paradoxalmente marcado por grande humildade e modéstia. Não é violento, mas clemente e bondoso (Mt 5, 43-48), livre de qualquer necessidade de auto-afirmação agressiva. Não se aflige com as próprias necessidades, mas confia plenamente em Deus para tudo (Mt 6,19-34). O homem que leva uma vida ‘divina’ é, portanto, filho perfeito de Deus à imitação de Cristo que, em todas as coisas, considerava apenas a vontade e o amor de Seu Pai. O homem divino vive em contato constante com a fonte interior da vida divina ou, como teria dito Mestre Eckhart, com ‘o nascimento divino dentro de nós’.”

Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 108-109
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2.004. p. 115-116
Reflexão da semana de 09-02-2009

Um pensamento para reflexão
: “‘Graça divina’ é, então, o dom da imagem de Deus em uma criatura que é amada por Deus como Seu filho. ”
Amor e Vida, Thomas Merton

02 fevereiro 2009

O medo é a raiz da guerra

“ Toda guerra tem por raiz 0 medo; não tanto o medo que os homens têm uns dos outros, como o medo que têm de tudo. Não se trata apenas da desconfiança que nutrem uns para com os outros; não têm confiança nem em si próprios. Se não estão seguros do momento em que poderá alguém matá-los, estão ainda menos seguros da hora em que eles mesmos poderiam se matar. Não podem ter confiança em coisa alguma, porque deixaram de crer em Deus.

Não é só nosso ódio aos outros que é perigoso, mas também, e sobretudo, o nosso ódio a nós mesmos. E esse ódio a nós mesmos é tão profundo e tão forte que não pode ser enfrentado. Pois é isso que nos faz ver nossa própria maldade nos outros e nos torna incapazes de vê-la em nós mesmos.”

New Seeds of Contemplation, de Thomas Merton
(New Directions, New York), 1961. p. 112
No Brasil: Novas Sementes de Contemplação, (Editora Fissus, Rio de Janeiro), 2001. p. 115
Reflexão da semana de 02-02-2009

Um pensamento para reflexão: “ (…) Nunca vemos a verdade essencial que nos ajudaria a iniciar a solução de nossos problemas éticos e políticos. Essa verdade é estarmos todos mais ou menos errados, estarmos todos em falta, sermos todos limitados, condicionados por nossos motivos pessoais embaralhados, nossa tendência a nos enganarmos a nós próprios, nossa avareza, farisaísmo e tendência à agressividade e à hipocrisia.”
Novas sementes de contemplação, Thomas Merton

26 janeiro 2009

A misericórdia cura tudo

“Embora de nada adiante por nossas esperanças em um novo mundo totalmente utópico, no qual cada um será sublimemente misericordioso, somos obrigados, como cristãos, a procurar algum modo de dar à misericórdia e à compaixão de Cristo uma dimensão social e até política. A função escatológica da misericórdia, repetimos, é preparar a transformação cristã do mundo e introduzir o Reino de Deus. Esse Reino manifestamente ‘não é deste mundo’ (ao contrário de todas as formas de cristianismo milenarista e messiânico), mas exige ser exemplificado e preparado por formas de testemunho social heróico que tornem a misericórdia cristã clara e evidente no mundo.

(…) A misericórdia cristã deve descobrir na fé, no Espírito, um poder suficientemente forte para iniciar a transformação do mundo em um lugar onde reinem compreensão, unidade e relativa paz, onde a humanidade, as nações e as sociedades estejam dispostas a fazer o enorme sacrifício necessário para se comunicarem de modo inteligível, compreender-se, cooperar para alimentar os milhões de famintos e construir um mundo de paz. ”

Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 219
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2.004. p. 230-231
Reflexão da semana de 26-01-2009

Um pensamento para reflexão
: “A misericórdia cura tudo. Cura corpos, espíritos, sociedade e história. É a única força que pode realmente curar e salvar.”
Amor e Vida, Thomas Merton