31 outubro 2011

A criação pede licença para ser

“Como desperta o vale. Às duas e quinze da madrugada, não há ruídos, a não ser no mosteiro: tocam os sinos, o Ofício Divino se inicia. Lá fora, nada, exceto, talvez, um sapo-boi coaxando ‘Om’ no riacho ou no laguinho da hospedaria. Em algumas noites, ele fica no Samadhi, nem se ouve o ‘Om’. Nessas manhãs, o pio misterioso e ininterrupto do pássaro da noite começa mais ou menos às três. Ele nem sempre está perto. Às vezes são dois ou três piando juntos, talvez a um quilômetro de distância nas florestas a leste.

Os primeiros pios dos pássaros da manhã marcam o point-vierge da aurora sob um céu ainda sem luz real. É um momento de temor reverente e de inexprimível inocência, quando o Pai, em perfeito silêncio, abre-lhes os olhos. Eles começam a falar-Lhe, não em canto fluente, mas com uma pergunta de despertar que seu estado de aurora, seu estado no point-vierge. Sua condição pergunta se chegou para eles a hora de ‘ser’. Ele responde que ‘sim’. Então, um por um, eles despertam e se tornam passarinhos. Manifestam-se como passarinhos ao começar a cantar. Logo serão plenamente o que são e até voarão.”

Conjectures of a Guilty Bystander, de Thomas Merton
(Doubleday, New York), 1966. p. 131
No Brasil: Reflexões de um espectador culpado, (Editora Vozes, Petrópolis), 1970. p. 151
Reflexão da semana de 31-10-2011 

Um pensamento para reflexão: “Enquanto isso, o momento mais maravilhoso do dia é aquele em que, em sua inocência, a criação pede licença para ‘ser’ uma vez mais, como na primeira manhã que jamais existiu.”
Reflexões de um espectador culpado, Thomas Merton

24 outubro 2011

A verdadeira disciplina

“A verdadeira disciplina é interior e pessoal. É algo mais do que apenas aprender certo tipo de conduta e possuir justificativas religiosas coerentes para essa conduta. Uma coisa é dizer que, com uma profunda reverência, pretendo expressar amor e adoração a Deus; mas outra é realmente crescer nesse amor e adoração.” 

Contemplation in a World of Action
, de Thomas Merton
(Notre Dame Press, Notre Dame, In), 1998. p. 105
No Brasil: Contemplação num mundo de ação, (Editora Vozes, Petrópolis), 1975, p. 111.

Reflexão da semana de 24-10-2011 

Um pensamento para reflexão
: “Enfim, disciplina significa algum tipo de solidão, não no sentido de uma retração egoísta, mas sim no de um vazio que não preza mais a sensação de conforto advinda dos diversos ‘ídolos’ sociais. É uma solidão não mais escrava da aprovação de outros.” 
Contemplação num mundo de ação, Thomas Merton

17 outubro 2011

Sou dom!

“Amor é ser o que se é. É como uma fonte que emana do solo de nossa própria profundidade. ‘Sou dom’. Tudo o que sou é algo que é dado, e dado livremente. Ser não custa nada. Não tem etiqueta de preço, nenhuma condição é imposta. É simplesmente dado.” 

The Springs of Contemplation: A Retreat at the Abbey of Gethsemani, de Thomas Merton
(Ave Maria Press, Notre Dame, Indiana), 1972 p. 26

.Reflexão da semana de 17-10-2011 

Um pensamento para reflexão: “Deus quer conhecer a divina bondade em nós.” 
The Springs of Contemplation, Thomas Merton

10 outubro 2011

Amar com amor puro

“O homem que realmente encontrou sua nudez espiritual, que percebeu que está vazio, não é um eu que tenha adquirido o vazio ou se tornado vazio. Está simplesmente ‘vazio desde o início’, como observou o Dr. Suzuki. Ou, nos termos mais afetivos de Santo Agostinho e São Bernardo, esse homem ‘ama com amor puro’. Ou seja, ama com pureza e liberdade que brotam espontânea e diretamente do fato de que recuperou plenamente a semelhança divina e agora é plenamente seu verdadeiro eu porque está perdido em Deus.”

Zen and the Birds of Appetite, de Thomas Merton
(New Directions, New York) 1973, p. 129
No Brasil: Zen e as aves de rapina, (Civilização Brasileira, Rio de Janeiro) 1972, p. 119-120 
Reflexão da semana de 10-10-2011 

Um pensamento para reflexão: “ (…) a pureza de coração não é o fim último do empenho do monge no deserto. É apenas um passo nessa direção.” 
Zen e as aves de rapina, Thomas Merton

03 outubro 2011

Silêncio restaurador

“Contudo, o ‘deserto’ do espírito humano ainda não é totalmente hostil à vida espiritual. Ao contrário, seu silêncio ainda é um silêncio restaurador. Quem tenta escapar da solidão e do confronto com o Deus desconhecido pode acabar sendo destruído na solidão atomizada, caótica e sem sentido da sociedade de massas.” 

Faith and Violence, de Thomas Merton.
(University of Notre Dame Press, South Bend, IN), 1968, p. 52. 
Reflexão da semana de 03-10-2011

Um pensamento para reflexão: “Só há amor e vida reais se forem voltados para o descobrimento do ser verdadeiro, espiritual de cada um, para além e acima do nível da mera individualidade empírica com suas alegrias e temores superficiais.” 
Faith and Violence, Thomas Merton