25 fevereiro 2014

As coisas como elas são

“É quando não desejamos as coisas deste mundo por elas mesmas, que ficamos aptos a vê-las como são realmente. Vemos ao mesmo tempo a sua bondade e a sua finalidade e nos tornamos capazes de apreciá-las como nunca antes. (…) Pois que disse Jesus: 'Procurai, primeiro o reino de Deus e a Sua justiça, e todas as coisas [isto é, tudo de que precisardes para a vossa vida na terra] vos serão dadas em acréscimo' (Mt 6,33).

Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 28

17 fevereiro 2014

Amizade

Thomas Merton mostrando seus desenhos para Martha Schuman. 14 de julho de 1967.
“A caridade deve ensinar-nos que a amizade é uma coisa santa e que não é nem caridoso nem santo fundar a nossa amizade na mentira. Podemos, em certo sentido, ser amigos de todos os homens, porque não há homem na terra com que não tenhamos algo em comum. Mas seria falso tratar com intimidade um grande número de homens. Não é possível ser íntimo senão de uns poucos, porque são muitos poucos no mundo com quem temos tudo em comum.

Assim, o amor deve ser verdadeiro para com aqueles que amamos, para conosco e, ainda, para com as leis que o regem. Não posso ser verdadeiro a mim mesmo, se pretendo ter mais do que realmente tenho em comum com pessoas de que posso gostar por motivo interesseiro e indigno.”

Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 25 e 26.


10 fevereiro 2014

Salvação: realidade objetiva

Ela [a salvação] é uma realidade objetiva e mística – o encontro de nós mesmo em Cristo, no Espírito, ou, se você preferir, na ordem sobrenatural. Inclui, sublima e aperfeiçoa aquela autorrealização natural que ela até certo ponto pressupõe, frequentemente realiza e sempre transcende. Em consequência, esse descobrimento de nós mesmos é sempre uma abnegação, uma verdadeira morte e ressurreição. “Vossa vida está escondida com Cristo em Deus”.

Encontrar-nos, pois, em Deus e encontrar Deus em nós, por uma caridade que também encontra todos os outros homens em Deus e conosco, é , portanto, a descoberta não de nós, mas de Cristo. É, em primeiro lugar, a percepção de que “vivo agora, não eu, mas Cristo que vive em mim”. E, depois, é a penetração deste tremendo mistério que São Paulo, tão ousada quão obscuramente, esboçou nas suas grandes epístolas: o mistério da recapitulação, da síntese, de tudo em Cristo. É ver o mundo em Cristo, seu princípio e seu fim. Ver todas as coisas saindo de Deus no Logos que se encarna e desce às mais baixas profundezas de Sua própria criação, e lá reúne tudo a Si mesmo para o devolver, afinal, ao Pai nos fins dos tempos. Achar-nos a nós mesmo, portanto, é encontrar não apenas as nossas pobres, limitadas e perplexas almas, mas o poder de Deus que ressuscitou Cristo dos mortos e pelo qual o nosso “próprio edifício se torna a habitação de Deus” (Ef 2, 22).

Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 12 e 13

03 fevereiro 2014

A vida tem um sentido

“Por mais decadentes que pareçam o homem e o mundo e por mais terrível que se torne o desespero humano, enquanto o homem continuar a ser homem, é sua própria humanidade que continuará a dizer-lhe: a vida tem um sentido. Essa é, de fato, uma das razões pelas quais tende o homem a rebelar-se contra si mesmo. Se ele pudesse ver sem esforço o sentido da vida e chegar sem tropeço ao seu fim, jamais discutiria o fato de que a vida bem vale ser vivida.”

Prólogo de Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 09