Ela [a salvação] é uma realidade objetiva e mística – o encontro de nós mesmo em Cristo, no Espírito, ou, se você preferir, na ordem sobrenatural. Inclui, sublima e aperfeiçoa aquela autorrealização natural que ela até certo ponto pressupõe, frequentemente realiza e sempre transcende. Em consequência, esse descobrimento de nós mesmos é sempre uma abnegação, uma verdadeira morte e ressurreição. “Vossa vida está escondida com Cristo em Deus”.
Encontrar-nos, pois, em Deus e encontrar Deus em nós, por uma caridade que também encontra todos os outros homens em Deus e conosco, é , portanto, a descoberta não de nós, mas de Cristo. É, em primeiro lugar, a percepção de que “vivo agora, não eu, mas Cristo que vive em mim”. E, depois, é a penetração deste tremendo mistério que São Paulo, tão ousada quão obscuramente, esboçou nas suas grandes epístolas: o mistério da recapitulação, da síntese, de tudo em Cristo. É ver o mundo em Cristo, seu princípio e seu fim. Ver todas as coisas saindo de Deus no Logos que se encarna e desce às mais baixas profundezas de Sua própria criação, e lá reúne tudo a Si mesmo para o devolver, afinal, ao Pai nos fins dos tempos. Achar-nos a nós mesmo, portanto, é encontrar não apenas as nossas pobres, limitadas e perplexas almas, mas o poder de Deus que ressuscitou Cristo dos mortos e pelo qual o nosso “próprio edifício se torna a habitação de Deus” (Ef 2, 22).
Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 12 e 13
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