24 novembro 2014

Aprender a perdoar

"Querem conhecer a Deus? Aprendam a compreender as fraquezas e imperfeições dos irmãos. Mas, como se pode conhecer a fraqueza alheia, se não se reconhece a própria? Como se pode ver o sentido das próprias limitações se não se recebeu de Deus a misericórdia que nos dá o conhecimento Dele e de nós mesmos? Não basta perdoar: é preciso perdoar com humildade e compaixão. Perdoar sem humildade é um escárnio, que nos supõe melhores do que os outros. Jesus desceu aos abismos da nossa degradação a fim de perdoar-nos, após descer, em certo sentido, mais baixo do que nós todos. Não nos compete perdoar a outros do alto de tronos sublimes, como se fôssemos deuses a olha-los de cima dos céus. Nosso dever é perdoá-los nas chamas do seu próprio inferno, pois Cristo, através do nosso perdão, desce mais uma vez para apagar a chama vingadora. Mas Ele não o pode fazer se não perdoarmos com a compaixão do Cristo. Ele não pode amar sem sentimento e sem coração. Seu amor é humano e divino ao mesmo tempo, e a nossa caridade será uma caricatura do seu amor se ela pretende ser apenas divina, e não consente em ser também humana."

Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág.177-178

17 novembro 2014

A fonte da alegria

"Cada pecado é uma violação do amor de Deus, e a justiça divina torna-lhe impossível uma reparação perfeita a não ser pelo amor. Ora, o amor é o maior dom de Deus aos homens. A caridade é a nossa mais alta perfeição e a fonte de toda a nossa alegria. Ela é o livre dom da misericórdia. Cumulando-nos da divina caridade e chamando-nos a amar a Deus como Ele nos amou primeiro, e a amar os outros como Deus a nós, a sua misericórdia permite-nos oferecer plena satisfação à justiça. Esta pode, assim, melhor satisfazer-se com os efeitos da própria misericórdia."

Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág.177

10 novembro 2014

Experimentar a pobreza alheia

"A misericórdia de Deus está à nossa disposição, quando a quisermos; basta ser misericordioso com o outro. Pois é a bondade de Deus que age através de nós, quando Ele nos leva a tratar o próximo como Deus nos trata. Sua misericórdia santifica a nossa pobreza, quando sentimos compaixão pela dos outros, como se fosse a nossa. E isso é um reflexo criado da divina compaixão nas nossas almas. Assim, ela destrói os nossos pecados, no mesmo ato em que esquecemos e perdoamos os pecados alheios.

Tal compaixão não se aprende sem sofrimento. É impossível encontrá-la numa vida complacente, em que platonicamente esquecemos os erros alheios, sem nenhum senso do nosso próprio entrosamento no mundo do pecado. Se queremos conhecer a Deus, aprendamos a entender as fraquezas, pecados e imperfeições dos outros, como se nossas fossem. Temos de experimentar a sua pobreza, como Cristo fez a experiência da nossa."

Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág.176

03 novembro 2014

Bem-aventurados os que choram

"Pode ser verdade? Pode haver maior infortúnio do que experimentar a nossa insuficiência, miséria e desesperança, e conhecer que não somos, absolutamente, dignos de nada? É, porém, uma bênção ver-se reduzido a esses extremos, quando neles podemos encontrar a Deus. Até chegarmos ao fundo do abismo, ainda há para nós algo a escolher entre tudo e nada. Ainda há qualquer coisa no meio. Podemos ainda fugir à decisão. Quando somos reduzidos aos extremos não existe mais evasão. A escolha torna-se terrível. Ela é feita em meio às trevas, mas com uma intuição que é insuportável, tal a sua clareza angélica: é quando nós, que fomos destruídos e parecemos estar no inferno, miraculosamente escolhemos a Deus!"

Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág.173-174