22 agosto 2005

Amor egoísta de si

“ A inconstância e a indecisão são sinais de amor egoísta de si.

Se jamais conseguimos decidir com firmeza o que Deus quer para nós, mas constantemente damos voltas mudando de opinião, de uma prática para outra, de uma devoção para outra, de um método para outro, pode ser isso uma indicação de que o que queremos é contornar a vontade de Deus e fazer a nossa com uma consciência tranqüila.

Assim que o Senhor nos coloca num mosteiro, queremos ir para outro.

Logo que experimentamos uma forma de oração, queremos tentar outra. Estamos constantemente tomando resoluções e mudando-as por contra-resoluções. Interrogamos nosso confessor e não nos lembramos das respostas. Antes de terminar um livro, iniciamos a leitura de outro e a cada livro que lemos mudamos completamente o plano de nossa vida interior.

Em breve, não teremos mais vida interior. Toda a nossa existência será um labirinto de desejos confusos, sonhos vãos e veleidades, em que nada fazemos a não ser destruir a obra da graça. Pois tudo isso é apenas um vistoso e complicado plano subconsciente de nossa natureza para resistir a Deus, Cuja atuação em nossa alma exige o sacrifício de tudo que desejamos e em que nos satisfazemos, e, em realidade, o sacrifício de tudo que somos.

Permaneçamos, portanto, quietos e deixemos o Senhor fazer algum trabalho.

É isso que significa renunciar não só aos prazeres e ao que possuímos, mas até a nós mesmos.”
New Seeds of Contemplation, de Thomas Merton
(New Directions, New York),1972. p. 260-261
No Brasil: Novas sementes de contemplação (Editora Fissus, Rio de Janeiro). 2001. p. 254-255
Reflexão da semana de 22-08-2005

08 agosto 2005

Acumulando bens e satisfações

“ O “eu” superficial do individualismo pode ser possuído, desenvolvido, cultivado, mimado, satisfeito; é o centro de todo nosso esforço na luta para acumular bens e satisfações, sejam eles materiais ou espirituais. Mas o “eu” profundo do espírito, da soledade e do amor não pode ser “obtido”, possuído, desenvolvido, aperfeiçoado. Só pode ser e agir de acordo com leis interiores e profundas que não são de fabricação humana, mas emanam de Deus. São as Leis do Espírito que, semelhante ao vento, sopra onde quer. Esse “eu” interior, que está sempre em soledade, é também sempre universal. Pois, nesse “eu” íntimo em extremo, minha soledade se encontra com a soledade de todos os homens e com a de Deus.
Disputed Questions, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, San Diego, CA), 1960. p. 207
No Brasil: Questões abertas, (Agir Editora, Rio de Janeiro), 1963. p. 230
Reflexão da semana de 8-08-2005

01 agosto 2005

O “eu” verdadeiro

“ Existe um outro “eu”, o “eu” verdadeiro, que atinge a plena maturidade na solidão e no vazio — e que pode, é evidente, começar a se manifestar e se desenvolver na dedicação verdadeira, sacrificial e criadora que pertence a uma autêntica existência social. Contudo, devemos notar que, mesmo essa maturação social do amor, implica, ao mesmo tempo, o crescimento de uma certa soledade interior.

Sem um certo grau de solidão, seja ela qual for, não há nem pode haver maturidade. A não ser que alguém se torne solitário e vazio, não poderá se dar a outros no amor, porque não possui o “eu” profundo que é o único dom digo do amor. E esse “eu” profundo, digamo-lo imediatamente, não pode ser possuido. Meu ser profundo não é uma “coisa” que eu conquisto ou “consigo” após longo combate. Não me pertence e não pode pertencer-me. Não é “qualquer coisa”, não é objeto. Sou “eu”.

Disputed Questions, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, San Diego, CA), 1960. p. 206-207
No Brasil: Questões abertas, (Agir Editora, Rio de Janeiro), 1963. p. 229-230
Reflexão da semana de 1-08-2005