26 junho 2006

Algo melhor do que a política

“ É verdade, os problemas políticos não são resolvidos apenas com amor e misericórdia. Mas o mundo da política não é o único mundo, e as decisões políticas só poderão fazer um bem real ao ser humano se forem baseadas em algo melhor e mais elevado do que a política. Quando um país tem de ser reconstruído após uma guerra, as paixões e energias da guerra não bastam mais. É preciso uma nova força: o poder do amor, o poder da compreensão e da compaixão humana, a força da generosidade e da cooperação, assim como o dinamismo criativo da disposição de viver e de construir, e a disposição de perdoar. A vontade de se reconciliar.”

Introductions East & West. The Foreign Prefaces of Thomas Merton
(Unicorn Press, Inc. Greensboro, NC), 1981 p.105
Reflexão da semana de 26-06-2006

19 junho 2006

Um tempo compassivo

“ A vida contemplativa deve oferecer uma área, um espaço de liberdade, de silêncio possam vir à tona e novas escolhas – além daquelas habituais – possam se manifestar. Ela deve criar uma nova consciência de tempo, não no sentido de uma substituição da imobilidade mas como um temps vierge*. Não como um vazio a preencher ou um espaço intocado a conquistar e violar, mas um espaço onde se possa usufruir das próprias potencialidades e anseios e da presença de si mesmo. O tempo da pessoa. Não porém ocupado pelo próprio ego com suas exigências, mas aberto aos outros – um tempo compassivo, tendo ao fundo a consciência da ilusão comum e a crítica desta.”

(*) “Temps vierge” – em francês no original – literalmente, “tempo virgem”, cf. em Conjecturas de um expectador culpado. Merton usou o termo para descrever “os primeiros chilreios dos pássaros despertando” na madrugada, junto ao mosteiro em Kentucky. “Começam a falar com Ele, não com um canto fluente, mas com uma pergunta que desperta e é seu estado-madrugada, seu estado no “ponto virgem”. A condição deles indaga se é tempo de “ser” para eles. E Ele responde “sim”. Então, um por um, eles despertam e tornam-se pássaros.”
The Asian Journal of Thomas Merton
(New Directions Publishing Corp. New York), 1975 p. 117, 177.
No Brasil: O Diário da Ásia de Thomas Merton, (Ed. Vega, Belo Horizonte), 1978, p.89 e 136.

Reflexão da semana de 19-06-2006

12 junho 2006

A guerra contra a guerra

“ As orações e sacrifícios devem ser usados como as armas espirituais mais eficazes na guerra contra a guerra e, como todas as armas, devem ser usados com um objetivo determinado, não apenas com a vaga aspiração à paz e segurança, mas contra a violência e contra a guerra. Isto também implica que estejamos dispostos a sacrificar e conter nossos próprios instintos de violência e agressividade em nossas relações com as outras pessoas. Podemos nunca ter sucesso nessa campanha, mas, quer o tenhamos quer não, o dever é evidente. Trata-se da grande tarefa cristã do nosso tempo: tudo o mais é secundário, pois a própria sobrevivência da espécie humana depende dela. Devemos ao menos assumir a responsabilidade e fazer algo a esse respeito. E a primeira de todas as medidas a serem tomadas é entender as forças psicológicas que atuam em nós e na sociedade.”

Seeds, editado por Robert Inchausti
(Shambhala Publications: Boston & London), 2002. p. 132
Publicado originalmente in The Root of War deThomas Merton
(The Catholic Worker #2, Oct. 1961)

Reflexão da semana de 12-06-2006

05 junho 2006

Um só corpo

“ Somente quando nos vemos no nosso verdadeiro contexto humano, como membros de uma espécie destinada a ser um só organismo e “um só corpo”, é que começamos a compreender a positiva importância não apenas dos sucessos, mas também dos fracassos e acidentes da nossa vida. As minhas vitórias não me pertencem exclusivamente. Seu caminho foi preparado por outros. O fruto dos meus trabalhos não é só meu, pois estou preparando o caminho para as realizações dos que hão de vir. Também não pertencem apenas a mim as minhas falhas. Podem vir da falta alheia, mas também são compensadas pelo que outros realizam. Por conseguinte, o sentido da minha vida não deve ser buscado apenas na soma das minhas realizações. Só pode ser visto na integração completa das minhas vitórias e falhas nas vitórias e falhas da minha geração, da minha sociedade e do meu tempo.”

No Man is an Island, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, Publishers, New York), 1955. p. xxii
No Brasil: Homem algum é uma ilha, (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 17
Reflexão da semana de 5-06-2006