24 fevereiro 2015

Preferir o silêncio

"Se quiserem que as palavras ditas sobre Deus signifiquem algo, vibrem de zelo pela sua glória. Pois, se os ouvintes perceberem que falamos apenas para nosso próprio agrado, acusarão o nosso Deus de ser somente uma sombra. Se se ama a glória de Deus, é essa transcendência que se procurará, e é no silêncio que ela se encontra. Não procuremos, pois, conforto numa certeza de sermos bons. Saibamos somente que só Deus é santo, só Ele é bom.
 
Não é raro que o nosso silêncio e as nossas orações levem mais ao conhecimento de Deus, do que tudo que dissermos sobre Ele. O simples fato de querermos glorificar a Deus falando Dele não prova que o conseguiremos. Que importa, se Ele prefere o meu silêncio? Não ouviram dizer que o silêncio Lhe dá glória? "

Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág. 207

17 fevereiro 2015

Linguagem esponsal

"Deus, nosso Criador e Salvador, deu-nos uma linguagem em que Ele pode ser anunciado, pois a fé nos vem pelo ouvido, e as nossas línguas são as chaves que abrem o céu aos outros. Mas, quando o Senhor vem como um Esposo, nada fica por dizer, exceto que Ele vem e que devemos ir ao seu encontro.

Saiamos, então, a encontrá-Lo na solidão. Aí nos comunicamos com Ele só, sem palavras, sem pensamentos discursivos, no silêncio de todo o nosso ser."

Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág.206

10 fevereiro 2015

Solidão interior

"Reserva e solidão são valores que pertencem à própria essência da personalidade. Uma pessoa é pessoa à medida que possui um segredo e constitui uma solidão que não pode ser comunicada a nenhum outro. Se eu amo uma pessoa, amarei o que mais a faz ser uma pessoa: o mistério, o segredo, a solidão do seu ser, que só Deus pode penetrar e compreender. Um amor que invade a intimidade espiritual do próximo, para abrir-lhe todos os segredos e sitiar com importunidade a sua solidão, não é amor: procura sim, destruir o que ele tem de melhor, e de mais íntimo.
Compaixão e respeito ajudam-nos a conhecer a soledade do próximo, encontrando-a na intimidade da nossa própria solidão interior. Se um homem desconhece o valor da sua própria solidão, como pode respeitá-la nos outros?"
 Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág.199-200

03 fevereiro 2015

A proximidade de Deus

"Os únicos homens inseparáveis do Senhor são os que não Lhe disputam nunca o direito de separar-se deles. Jamais O perdem porque sempre têm em mente que nunca merecem encontrá-Lo, e porque, a despeito da sua indignidade, eles já O encontraram. Pois Ele os encontrou primeiro, e não os deixará partir. Deus aproxima-se do nosso espírito, ao afastar-se dele. Não podemos nunca ter um pleno conhecimento de Deus, se O tomarmos como um objeto de captura, que pode ser encerrado no recinto das ideias."
 
Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág.195