28 maio 2007

Vosso amor me acompanhou nesta viagem

“Senhora, quando naquela noite saí da Ilha, que foi outrora vossa Inglaterra, vosso amor me acompanhou, ainda que eu não pudesse sabê-lo nem dele tomar consciência. Foi vosso amor, vossa intercessão por mim perante Deus, que estava preparando os mares diante de mim, abrindo-me o caminho para outro país.

Eu não tinha certeza para onde ia nem podia imaginar o que faria em Nova Iorque. Mas vós vistes mais longe e com mais clareza e abristes os mares diante de meu navio, cuja trajetória me levou por sobre as águas a um lugar com que jamais havia sonhado, mas que já então estáveis preparando para ser minha salvação, meu refúgio e meu lar. E quando eu achava que não havia Deus, não havia amor nem misericórdia, vós me conduzíeis o tempo todo para dentro de Seu amor e misericórdia, levando-me, sem meu conhecimento, para a casa que me ocultaria no segredo de Sua Face.”

The Seven Storey Mountain, de Thomas Merton
(Harcourt, Brace, New York), 1948, p. 129-130
No Brasil: A montanha dos sete patamares, (Editora Vozes, Petrópolis), 2005, p. 161-162
Reflexão da semana de 28-05-2007

Um pensamento para reflexão: “Preciso muito de oração com um coração contrito, com pensamentos mais humildes sobre dizer e fazer o que eu digo e faço. Tento parecer sábio, mas não temo a Deus sem o quê não há um começo para a sabedoria.”
A Search for Solitude. Journals, volume 4, Thomas Merton

21 maio 2007

Guardião de seu irmão

“ Uma pessoa é definida em termos de liberdade, portanto em termos de responsabilidade também: responsabilidade para com outras pessoas, responsabilidade pelas outras pessoas. Em termos concretos, o cristão não é apenas alguém que busca a expansão e o desenvolvimento de sua própria individualidade e a satisfação de suas mais legítimas necessidades naturais, mas alguém que se reconhece responsável pelo bem dos outros, pela realização temporal e eterna salvação deles.

Por isso, a pessoa cristã alcança a maturidade quando compreende que cada um de nós é, de fato, ‘um guardião de seu irmão’ e que, se há homens sofrendo e morrendo na Ásia ou na África, outros homens, na Europa e na América, estão intimados a submeter-se ao tribunal da consciência para examinar se, de fato, alguma decisão ou alguma negligência sua provocou esse sofrimento e essas mortes que, de alguma forma, poderiam parecer muito estranhas e remotas.

Pois hoje o mundo todo está estreitamente ligado por laços econômicos, culturais e sociológicos que nos tornam todos, em certa medida, responsáveis pelo que acontece aos outros nos lugares mais distantes da Terra. O homem é hoje não apenas um ser social; sua natureza social transcende os limites regionais e nacionais e, gostemos ou não, temos de pensar em termos de uma só família humana, um só mundo.”

Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 152-153
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2004. p. 161-162
Reflexão da semana de 21-05-2007

Um pensamento para reflexão: “O centro do humanismo cristão é a idéia de que Deus é amor e não poder infinito.
Amor e vida, Thomas Merton

14 maio 2007

Preciso de ti

[Trecho de oração a Nossa Senhora do Monte Carmelo]
“ Ensina-me a ir para o campo, além das palavras e dos nomes. Ensina-me a orar deste lado da fronteira, aqui no meio destes bosques.

Preciso ser conduzido por ti. Preciso que meu coração seja guiado por ti. Preciso que minha alma seja limpa por tua oração. Preciso que minha vontade seja fortalecida por ti. Preciso que o mundo seja salvo e mudado por ti. Preciso de ti para cuidar de todos os que sofrem, que estão presos, em perigo, aflitos. Preciso de ti para os loucos deste mundo. Preciso da tua mão que cura para que esteja sempre presente em minha vida. Preciso de ti para tornar-me, como teu Filho, uma pessoa que cura, conforta e que salva. Preciso de ti para dar nome aos mortos. Preciso de ti para ajudar os que estão morrendo a cruzar os seus rios. Preciso de ti para mim, quer eu viva ou morra. Preciso de ti para ser teu monge e teu filho. Tudo isso é necessário. Amém.”

A Search for Solitude — Journals, Volume 3, de Thomas Merton
Editado por Lawrence S. Cunningham
(HarperSanFrancisco, San Francisco), 1997, p. 46-47
Reflexão da semana de 14-05-2007

Um pensamento para reflexão: “ Mostra-nos o teu Cristo, Senhora, após este nosso exílio, sim, mas mostra-nos ele, também, agora e aqui, enquanto ainda vagamos.”
A montanha dos sete patamares, Thomas Merton

07 maio 2007

O paraíso nos envolve e não entendemos

“ Os primeiros chilreios dos pássaros ao acordar marcam o point-vierge [ponto virgem] da aurora sob um céu ainda desprovido de verdadeira luz. É um momento de temor reverente e de inexprimível inocência, quando o Pai, em perfeito silêncio, lhes abre os olhos. Eles começam a Lhe falar, não em um canto fluente, mas com uma pergunta de despertar que é o estado de aurora deles, seu estado no point-vierge. Sua condição pergunta se para eles é tempo de ‘ser’. Ele responde “sim”. Então, um por um, despertam e se tornam passarinhos. Manifestam-se como passarinhos e começam a cantar. Logo serão plenamente eles mesmos e até voarão.

Aqui há um segredo inefável: o paraíso nos envolve e não entendemos. Está escancarado. A espada foi retirada, mas não sabemos. Partimos: 'um para sua fazenda, outro para seus negócios.' Luzes acesas. Tique-taque dos relógios. Barômetros em ação. Fogões cozinhando. Barbeadores elétricos enchendo os rádios de estática. ‘Sabedoria’ clama o diácono da aurora, mas não acorremos.”

Conjectures of a Guilty Bystander, de Thomas Merton
(Doubleday, New York), 1966. p. 131-132
No Brasil: Reflexões de um espectador culpado, (Editora Vozes, Petrópolis), 1970. p. 151-152
Reflexão da semana de 07-05-2007

Um pensamento para reflexão: “O momento mais maravilhoso do dia é quando, em sua inocência, a criação pede licença para ‘ser’ de novo, como na primeira manhã de todos os tempos.”
Reflexões de um espectador culpado, Thomas Merton