“ Há um eu silencioso dentro de nós cuja presença é perturbadora precisamente por ele ser tão silencioso: não pode ser falado. Tem de permanecer silencioso. Articulá-lo, verbalizá-lo, é adulterá-lo e, de certa forma, destruí-lo.
Agora enfrentemos francamente o fato de que a nossa cultura está direcionada, de muitas maneiras, para ajudar-nos a escapar de qualquer necessidade de enfrentar esse eu interior, silencioso. Vivemos em um estado de constante semi-atenção ao som de vozes, música, tráfego ou ao ruído generalizado do que acontece ao nosso redor o tempo todo. Assim ficamos imersos em um dilúvio de barulho e palavras, um meio difuso em que nossa consciência quase se dilui: não estamos realmente “pensando”, não reagimos de todo: estamos mais ou menos ali. Não estamos totalmente presentes, nem inteiramente ausentes; não totalmente ausentes, e, contudo, não completamente disponíveis. Não se pode dizer que participemos realmente de nada, e, de fato, podemos ser meio conscientes de nossa alienação e ressentimento. No entanto, tiremos uma certa comodidade da vaga sensação de fazermos “parte” de algo – embora não consigamos definir ao certo o que é esse algo – e provavelmente não queiramos defini-lo nem se isto nos for possível. Apenas nos deixamos flutuar no barulho geral. Resignados e indiferentes, participamos semiconscientemente da mente ausente da música de sala de espera e comerciais de rádio que são apresentadas como ‘realidade’.”
Thomas Merton: Essential Writings
Seleção e apresentação de Christine M. Bochen
(Orbis Books, Maryknoll, New York), 2000, p. 74-75
Publicado originalmente in Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart,OCSO
(Farrar, Straus & Giroux, New York), 1979, p. 38-43
No Brasil: Amor e Vida, de Thomas Merton
(Martins Fontes Editora, São Paulo), 2004, p. 40-48
Reflexão da semana de 7-02-2006