01 junho 2009

Quem é o inimigo e quem somos nós?

“As pessoas não são conhecidas apenas pelo seu lado intelectual ou seus princípios, mas principalmente pelo amor. Quando amamos o próximo, o inimigo, aí então obtemos de Deus a chave para uma compreensão de quem seja nosso inimigo e de quem somos nós. É unicamente isto que poderá revelar-nos a natureza real dos nossos deveres e das nossas retas ações.

Quando ignoramos a pessoa e recusamos considerá-la como tal, como um outro eu, estamos lançando mão do ‘direito’ e da ‘natureza’, em sentido impessoal. Em outras palavras, estamos bloqueando a realidade do outro, estamos cortando a intercomunicação da nossa natureza com a dele, e consideramos apenas a nossa natureza, individual, com seus direitos, suas prerrogativas, suas exigências. De fato, contudo, estamos considerando a nossa natureza no concreto e a dele no abstrato. E assim justificamos o mal que fazemos a nosso próximo, pois ele não é considerado mais como um irmão, mas apenas como um adversário, um réu, um ente maligno.

Para restaurar a comunicação, para ver a nossa unidade de natureza com a dele, respeitar os seus direitos pessoais, a sua integridade e o direito de ser amado, temos também de nos encarar como réu, como ele, de sermos condenados à morte com ele, mergulhando no mesmo abismo que ele, necessitando, também como ele, do dom inefável da graça e da misericórdia, de maneira a sermos salvos.”

Seeds of Destruction, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux, New York), 1964. p. 254-255
No Brasil: Sementes de Destruição, (Editora Vozes, Petrópolis), 1966. p. 252-253
Reflexão da semana de 01-06-2009

Um pensamento para reflexão
: “O ponto principal na ética cristã é olhar a pessoa e não a natureza. (…) Porque, quando nós consideramos o que seja ‘a natureza’ temos em mente o geral, o teórico, e deixamos de lado o concreto, o individual, a realidade pessoal daquele que se nos defronta. Daí então vermos essa outra pessoa não como o nosso outro eu, não como um Cristo, mas sim como o nosso demônio, o nosso animal maligno, o nosso pesadelo.”
Sementes de Destruição, Thomas Merton

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