28 setembro 2015

Atitude



"Recebemos o Cristo ouvindo a palavra da fé. Trabalhamos na obra da nossa salvação em silêncio e na esperança; mais cedo ou mais tarde, porém, chega a hora em que devemos abertamente confessá-lo diante dos homens e, em seguida, diante de todos os que habitam o céu e a terra."


Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Editora Vozes), 7ª Ed. 2014, pág. 72 

25 setembro 2015

Francisco, por que Dorothy e Merton?


O discurso histórico do Papa Francisco no Congresso dos Estados Unidos, na manhã de ontem (24 de setembro de 2015), demonstrou familiaridade com a história americana ao mencionar dois gigantes cuja as vidas poderiam servir de inspiração para o desordenado mundo em que vivemos. Foram duas escolhas óbvias: Abraham Lincoln e Martin Luther King. Além destes, outros dois nomes “desconhecidos” foram citados: Dorothy Day e Thomas Merton.

Diante da euforia num primeiro momento, surge a pergunta: Papa Francisco, por que Thomas Merton e Dorothy Day?

Não haveria momento mais oportuno, após a aula dada por Francisco aos congressistas, para re-apresentar estas duas personalidades.

Dorothy nos é apresentada pelo Sumo Pontífice nos seguintes termos:

“Nestes tempos em que as preocupações sociais são tão importantes, não posso deixar de mencionar a Serva de Deus Dorothy Day (…). O seu compromisso social, a sua paixão pela justiça e pela causa dos oprimidos estavam inspirados pelo Evangelho, pela sua fé e o exemplo dos Santos.”

Dorothy Day (1897-1980), fundadora do movimento social Catholic Worker, desde sempre foi comprometida com os direitos dos "últimos" nos EUA em nome do Evangelho. Uma fiel também marcada pelo drama de um aborto antes da sua própria conversão, hoje no caminho da santidade: a Arquidiocese de Nova York, anos atrás, abriu o seu processo de beatificação.

Merton e Dorothy trocaram várias correspondências, muitas delas podendo ser encontradas nos livro “All the Way to Heaven: TheSelected Letters of Dorothy Day” e Thomas Merton: A Life in Letters: The Essential Collection”.

Vamos a alguns trechos:

"Em consciência, sinto que não posso, em um momento como este, continuar escrevendo só sobre questões como a meditação. Acho que devo me confrontar com as grandes questões, as questões de vida e morte. (…) O Catholic Worker é parte da minha vida, Dorothy. Tenho certeza que o mundo está cheio de pessoas que poderiam dizer o mesmo. Se não existisse o Catholic Worker, eu nunca teria entrado na Igreja Católica". 

A sintonia de entendimento, a firmeza profética, a vida cultural e espiritual brotam de suas cartas.

"No dia 25 de julho, vou para Montreal para fazer um retiro com os interessados na família espiritual de Charles de Foucauld", escreve Dorothy em junho de 1959. "Estou tentando entrar tanto no movimento leigo quanto na sua associação. Mas não tenho certeza que eles me querem". Meses depois comunica, no dia 22 de janeiro de 1960: "Já lhe disse que sou uma postulante na Fraternidade da Caridade de Jesus na família de Charles de Foucauld? Reze por mim". 

É muito sólido o laço entre os dois: um encerrado no claustro da Abadia de Gethsemani, a outra no turbilhão de marchas e de protestos na frenética Nova York do pós-guerra.

Sobre Thomas Merton, falou o Papa Francisco:

“Um século atrás, no início da I Grande Guerra que o Papa Bento XV definiu «massacre inútil», nascia outro americano extraordinário: o monge cisterciense Thomas Merton. Ele continua a ser uma fonte de inspiração espiritual e um guia para muitas pessoas. Na sua autobiografia, deixou escrito: «Vim ao mundo livre por natureza, imagem de Deus; mas eu era prisioneiro da minha própria violência e do meu egoísmo, à imagem do mundo onde nascera. Aquele mundo era o retrato do Inferno, cheio de homens como eu, que amam a Deus e contudo odeiam-No; nascidos para O amar, mas vivem no medo de desejos desesperados e contraditórios». Merton era, acima de tudo, homem de oração, um pensador que desafiou as certezas do seu tempo e abriu novos horizontes para as almas e para a Igreja. Foi também homem de diálogo, um promotor de paz entre povos e religiões.” 

Estamos diante das duas pessoas mais importantes, interessantes e influentes da história do catolicismo norte-americano. Ambos flertaram com ideais marxistas, para depois se encontrarem na plenitude do amor-zênite da ética de Jesus Cristo.

Francisco pisou no solo onde um dia viveram atuais “Marta” e “Maria”: enquanto uma trabalhava no front do ativismo dos movimentos sociais, com foco nos trabalhadores, o outro cantava salmos e escrevia sobre a metafísica da alma.

Apesar de suas vidas terem tomados caminhos diferentes, ambos se concentraram em questões pontuais de uma América sem valores. Olhar para estes exemplos é comungar dos mesmos sentimentos de um simpático Papa que, com seu carisma, arranca aplauso até de quem é contrário a sua ideias.

Resta-nos agora redobrar a admiração com o vigor e a ternura de Francisco, que apresentou ao mundo dois grandes “desconhecidos” e os associou aos ideais de luta dos ilustres Lincoln e Luther King.

Cristóvão de Sousa Meneses Júnior
Sociedade dos Amigos Fraternos de Thomas Merton

EM TEMPO:

Waldecy nos lembra que há 53 anos uma oração redigida por um certo monge trapista foi rezada no Congresso Americano:
Diálogos com o Silêncio, Thomas Merton (Fissus, 2003) página 175

21 setembro 2015

O eco da humildade



"A humildade busca o silêncio, não na inatividade, mas na atividade ordenada, na atividade própria à nossa pobreza e incapacidade em face de Deus. A humildade se põe em oração e encontra o silêncio através de palavras. Mas, porque nos é natural passar das palavras ao silêncio e do silêncio às palavras, a humildade é silenciosa em todas as coisas. Até quando fala, a humildade escuta. As palavras da humildade são tão simples, tão mansas e tão pobres que, sem esforço, encontram o caminho para o silêncio de Deus. Em realidade, são o eco de seus silêncio, e, logo que são proferidas, o silêncio de Deus está nelas presente."


Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Editora Vozes), 7ª Ed. 2014, pág. 71

15 setembro 2015

Mãe acolhedora


“Maria sempre Virgem, Mãe de Deus nosso Salvador, eu me entrego inteiramente à tua amorosa intercessão e cuidados, porque tu és minha Mãe e eu sou teu querido filho, cheio de problemas, conflitos, erros, confusão e com tendência para o pecado.

Minha vida toda deve mudar, mas como não posso fazer nada para muda-la por conta própria, eu a entrego com todas as necessidades e preocupações para ti. Apresente-me de mãos puras para teu Filho Divino. Reza que eu possa aceitar de bom grado tudo que for preciso para despojar-me de mim mesmo e tornar-me Seu verdadeiro discípulo, esquecendo a mim mesmo e amando Seu Reino, Sua verdade e todos aqueles que Ele veio a salvar pela Sua Santa Cruz. Amém.”

Diálogos com o Silêncio, Thomas Merton (Fissus, 2003), pág. 151

08 setembro 2015

Comunhão do silêncio

“A vida solitária, silenciosa, dissipa a cortina de fumaça das palavras que o homem insere entre sua mente e as coisas. Na solidão, permanecemos frente a frente com o ser nu das coisas. No entanto, descobrimos que a nudez da realidade, que temíamos, não é motivo de terror nem de vergonha. Está envolta na amável comunhão do silêncio, e esse silêncio está relacionado com o amor.”

Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Editora Vozes), 7ª Ed. 2014, pág. 68