31 agosto 2015

Amor à solidão

“Amar a solidão e procurá-la não significa transportar-se de uma possibilidade geográfica a outra. O homem torna-se solitário no momento em que, seja qual for seu ambiente externo, toma, de repente, consciência de sua própria e inalienável solidão e compreende que jamais será outra coisa senão um solitário. Desde esse momento, a solidão não é apenas potencial – é atual.

Todavia, a solidão real sempre nos coloca concretamente em presença de uma possibilidade não realizada e até irrealizável de ‘perfeita solidão’. Mas isso tem de ser bem compreendido; pois perdemos a realidade da solidão que já possuímos, se tentamos com demasiada ansiedade realizar a possibilidade exterior maior, que sempre nos parece, por um nada, fora de nosso alcance. A verdadeira solidão tem como um de seus elementos integrantes a insatisfação e incerteza que nos vem do fato de estarmos em face de uma possibilidade não realizada. Não é uma busca frenética de possibilidades e sim uma humilde aceitação que nos estabiliza em presença de uma enorme realidade que, em certo sentido, já possuímos, e que, por outro lado, é uma ‘possibilidade’, um objeto de esperança.

Só quando o solitário morre e vai para o céu é que vê com clareza que essa possibilidade já estava atualizada em sua vida e ele não sabia pois sua solidão consistia, sobretudo, na ‘possibilidade’ de possuir a Deus e nada mais senão Deus, em pura esperança.”


Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Editora Vozes), 7ª Ed. 2014, pág. 65

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