“Amar
a solidão e procurá-la não significa transportar-se de uma possibilidade
geográfica a outra. O homem torna-se solitário no momento em que, seja qual for
seu ambiente externo, toma, de repente, consciência de sua própria e
inalienável solidão e compreende que jamais será outra coisa senão um
solitário. Desde esse momento, a solidão não é apenas potencial – é atual.
Todavia,
a solidão real sempre nos coloca concretamente em presença de uma possibilidade
não realizada e até irrealizável de ‘perfeita solidão’. Mas isso tem de ser bem
compreendido; pois perdemos a realidade da solidão que já possuímos, se
tentamos com demasiada ansiedade realizar a possibilidade exterior maior, que
sempre nos parece, por um nada, fora de nosso alcance. A verdadeira solidão tem
como um de seus elementos integrantes a insatisfação e incerteza que nos vem do
fato de estarmos em face de uma possibilidade não realizada. Não é uma busca
frenética de possibilidades e sim uma humilde aceitação que nos estabiliza em
presença de uma enorme realidade que, em certo sentido, já possuímos, e que,
por outro lado, é uma ‘possibilidade’, um objeto de esperança.
Só
quando o solitário morre e vai para o céu é que vê com clareza que essa
possibilidade já estava atualizada em sua vida e ele não sabia pois sua solidão
consistia, sobretudo, na ‘possibilidade’ de possuir a Deus e nada mais senão
Deus, em pura esperança.”
Na liberdade da
solidão,
Thomas Merton (Editora Vozes), 7ª Ed. 2014, pág. 65
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