21
de maio de 1940
Nova
York
“Dizem
que enquanto os alemães estavam profanando uma igreja, em certa localidade da
Polônia, um sargento alemão, enfunado pelo espetáculo excitante, plantou-se
diante do altar e berrou: se acaso Deus existe, prove Sua existência liquidando,
ali mesmo, um sujeito tão arrogante, importante e tremendo como era ele. Deus
não o liquidou. O sujeito saiu dali muito agitado e sentindo-se provavelmente o
homem mais infeliz do mundo: Deus não tinha agido como um Nazista. Deus não era
de fato Nazista e a Justiça de Deus (que todo o mundo conhece obscuramente, no
fundo da alma, por mais que não consiga exprimi-la) é substancialmente diversa
da brutal e sanguissedenta vingança dos Nazistas.
Deus de
acordo com a Sua impenetrável Vontade, liquida, de vez em quando, um louco
dessa espécie. Mas quem foi morto na cruxifixão de Cristo? A Paixão e a
Ressureição de Cristo são maiores do que todo milagre que possamos imaginar. A transubstanciação
do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo é muito mais milagrosa do que
a execução, por Deus, daquele que comete um sacrilégio contra o Santíssimo
Sacramento. É qualquer coisa de muito maior, de mais aterrorizador que Cristo,
no Sacramento, se deixe submeter a um
sacrilégio.
Ninguém
foi fulminado no Calvário. Os céus se abriram, rasgou-se o véu do templo e a
terra estremeceu. Tudo, porém para os homens de pouca fé. E quem de nós não
pertence a este número? Quem foi, entretanto, o fulminado? Os Fariseus? Foi um
raio que fulminou Judas ou foi ele que se enforcou a si mesmo?
O fato
mais terrível que ocorreu no Calvário não foi a terra ter estremecido até seus
fundamentos, e sim aquele grito do Filho de Deus: ‘Meu Deus, meu Deus, por que
me abandonastes?’”
(Vozes, 1961), pág. 97-98
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