06 outubro 2014

Sinceridade

"Como nos é difícil ser sinceros uns com os outros, quando nem nos conhecemos a nós mesmos nem uns aos outros. A sinceridade é impossível sem humildade e amor sobrenatural. Não posso ser cândido com os outros, se não me compreendo a mim mesmo e se não estou preparado a fazer todo o possível para compreendê-lo.

Mas a minha compreensão dos homens é sempre encoberta pelo reflexo de mim mesmo, que não posso deixar de ver nos outros.
 
Exige muito mais coragem do que se pensa para ser perfeitamente simples com os outros. A nossa franqueza é muitas vezes estragada por uma oculta barbárie, que é filha do medo.
 
A falsa sinceridade tem muito a falar, porque ela tem medo. Só a verdadeira candura pode dar-se ao luxo de ser silenciosa. Ela não tem de enfrentar qualquer ataque prévio. Tudo o que ela possa ter a defender, o pode ser com uma perfeita simplicidade.

Os raciocínios de algumas pessoas piedosas são muitas vezes insinceros, duma insinceridade proporcional à sua cólera. Por que nos irritamos por causa do que nós cremos? Porque na realidade, não cremos. Ou, então, o que pretendemos defender como "verdade" não passa, efetivamente, da nossa estima própria. Um homem de sinceridade interessa-se menos em defender a verdade, do que estabelecê-la claramente, porque ele pensa que a verdade claramente vista se incumbirá ela mesma de sua defesa."

Homem algum é uma ilha, Thomas Merton (Editora Agir), 1968, pág. 163-164

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