"Para
sermos espirituais, temos de permanecer homens. E, se isso não fosse
evidenciado em toda parte na teologia, o Mistério da Encarnação seria disso,
amplamente, uma prova. Por que Cristo se fez homem senão para salvar os homens
unindo-os misticamente a Deus por meio de sua Humanidade? Jesus viveu a vida
ordinária dos homens de seu tempo, a fim de santificar as vidas (ordinárias)
dos homens de todos os tempos. Se queremos, pois, ser espirituais, vamos em primeiro
lugar viver nossa própria vida. Não tenhamos medo das responsabilidades e
inevitáveis distrações inerentes à tarefa a nós confiada pela vontade de Deus.
Abracemos a realidade; assim nos encontraremos imersos na vontade vivificadora
e na sabedoria de Deus, que por toda a parte nos envolve.
Primeiramente,
certifiquemo-nos de que sabemos o que estamos fazendo. Só a fé pode dar-nos a
luz para vermos que a vontade do Senhor se acha em nossa vida cotidiana. Sem
essa luz, não podemos discernir o caminho certo, nem tomar as decisões exatas.
Para nos mantermos espiritualmente vivos, temos de renovar constantemente nossa
fé. Somos como pilotos de navios, imersos no nevoeiro, escrutando a escuridão
diante de nós, tentando ouvir o ruído de outros navios, e só podemos atingir o
porto se nos mantivermos alertas. A vida espiritual é, portanto, em primeiro
lugar, uma questão de estar desperto."
Na liberdade da
solidão,
Thomas Merton (Editora Vozes), 7ª Ed. 2014, pág. 39 e 40
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