"O
deserto foi criado simplesmente para ser o que é. É o lugar lógico de habitação
para o homem que não procura outra coisa senão ser ele próprio – isto é, uma
criatura solitária e pobre, dependendo unicamente de Deus, sem nenhum grande
projeto que se interponha entre ele e seu Criador."
"Os
Padres do Deserto acreditavam que a solidão fora criada por Deus, como valor
supremo a seus olhos, precisamente porque não tinha valor aos olhos dos homens.
A aridez do deserto era um lugar que jamais seria estragado pelos homens, porque
nada possuía para lhes oferecer. Nada tinha para atraí-los. Nada havia a ser
explorado."
Hoje é um dia de
especial memória! A percepção de amor sentida por certo monge
americano, influente em todo o mundo por causa de seus escritos, a
uma multidão de pessoas que não conhecia - mas que nem por isso lhe
eram estranhas, é celebrada como...
A "Epifania"
de Thomas Merton
Aquele distante 18 de
março de 1958, aquela esquina do centro comercial de Louisville,
aquela atmosfera povoada de barulho e pessoas marcaram a vida de
Merton. O relato contido no livro Reflexões de um espectador culpado
mostra um homem "interreligado" com todos da sua espécie,
a mesma "espécie na qual o próprio Deus se encarnou". E
revela mais:
"Fazer parte da espécie humana é um destino glorioso, mesmo se nossa espécie se dedica a muitos absurdos e comete muitos erros terríveis: apesar de tudo isso, o próprio Deus gloriou-se de vir a fazer parte da espécie humana. Parte da espécie humana! E pensar que essa percepção, que é um lugar comum, pode subitamente parecer uma notícia de que você é o detentor do bilhete que ganhou o primeiro prêmio na loteria cósmica."
Reflexões de um espectador culpado, Thomas Merton (Vozes, 1970), pág 181
"Não
podemos ver as coisas em profundidade enquanto as afagamos, a elas nos
agarrando. Quando delas abrimos mão, começamos a apreciá-las como são em
realidade. Só então podemos começar a ver Deus nelas. Somente quando O
encontramos nelas podemos iniciar os primeiros passos no caminho da
contemplação obscura, no fim do qual estaremos aptos a achá-las Nele."
"A morte que nos dá entrada à vida não é uma fuga à realidade, mas um dom total de nós mesmos que inclui uma completa entrega à realidade. Começa pela renúncia à ilusória realidade que as coisas criadas adquirem, quando consideradas apenas em relação aos nossos egoístas interesses particulares."
"Não há, na vida espiritual, desastre que se compare ao de se ver imerso na irrealidade, pois a vida se mantém e é em nós nutrida por nossa relação vital com as realidades que se encontram fora e acima de nós. Quando nossa vida se nutre de irrealidade, morremos de fome. Não há maior desgraça do que confundir essa morte estéril com a verdadeira e frutuosa “morte”, pela qual entramos na vida."