31 março 2014

Liberdade em plenitude

“Algo há na própria natureza da minha liberdade que me inclina a amar, a fazer o bem, a dedicar-me ao outro. Tenho um instinto que me diz que sou menos livre quando estou vivendo para mim só. A razão é que eu não posso ser de todo independente. Desde que não me basto a mim mesmo, dependo de algum outro para a minha plenitude. A minha liberdade não é plena quando deixada a si mesma. Ela só se torna tal quando posta em justa relação com a liberdade de outro.”

Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 37.

24 março 2014

Da bondade

“Se eu posso ter clareza para compreender que sou bom porque Deus quis que assim fosse, poderei, ao mesmo tempo, ver ainda mais claramente a bondade de outros homens e de Deus. E serei mais consciente das minhas próprias falhas. Não posso ser humilde sem, primeiro, saber que sou bom e que tudo que em mim é bom não me pertence; e saber como me é fácil tomar um mal de minha escolha pelo bem que é dom de Deus em mim.”

 Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 33.

18 março 2014

Epifania de Thomas Merton

Em Louisville, em uma esquina de Fourth e Walnut, no centro comercial da cidade, fui subitamente tomado pela consciência de que eu amava todas aquelas pessoas, que eram minhas e eu era delas, que não poderíamos ser estranhos uns aos outros embora fôssemos totalmente desconhecidos (...) Tenho a imensa alegria de ser humano, de pertencer a uma espécie na qual o próprio Deus se encarnou. Como se os pesares e estupidez da condição humana pudessem me esmagar agora que percebo o que todos nós somos. Ah, se todo mundo pudesse dar-se conta disto! Mas isto não pode ser explicado. Não há como dizer às pessoas que todas elas andam pelo mundo brilhando como o sol!”

Reflexões de um espectador culpado, Thomas Merton (Vozes, Petrópolis), 1970. p. 181

Assista ao vídeo produzido pela 
Sociedade dos Amigos Fraternos de Thomas Merton 
por ocasião do 56º aniversário deste acontecimento.

 

11 março 2014

O bom uso da inteligência

“Se, em vez de confiar em Deus, eu confio apenas na minha inteligência, os meios que Deus me deu para achar caminho até Ele hão de falhar sem exceção. Sem esperança, não há nada, na criação, que preste para algo de fundamental. Colocar a nossa esperança em coisas visíveis é viver no desespero.

E, no entanto, se eu espero em Deus, devo fazer também um uso confiante dos recursos naturais que, ao lado da graça, me ajudam a ir para Ele. Se Deus é bom e se a minha inteligência é uma dádiva Sua, o meu dever é mostrar, pela inteligência, a minha confiança na Sua bondade. Devo deixar a fé elevar, curar e transformar a luz da minha mente. Se Ele é misericordioso e se a minha liberdade é um dom da Sua bondade, devo mostrar, pelo uso da minha vontade livre, a confiança que ponho a Sua misericórdia. Devo deixar a esperança e caridade purificar e robustecer a minha liberdade humana e me elevar até a gloriosa autonomia dos filhos de Deus.”

Homem Algum é uma Ilha, Thomas Merton (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 29 e 30.

04 março 2014

Um dia de felicidade

“Até os momentos mais sombrios da Liturgia são cheios de alegria, e a Quarta-feira de Cinzas, início do jejum quaresmal, é um dia de felicidade (...).

O Mistério Pascal é, acima de tudo, o mistério da vida no qual a Igreja, ao celebrar a morte e a ressurreição de Cristo, penetra no Reino de Vida que Ele implantou, de uma vez por todas, por meio de sua vitória definitiva sobre o pecado e a morte. Devemos lembrar-nos do sentido original da Quaresma, ver sacrum, a 'fonte sagrada' da Igreja na qual os catecúmenos eram preparados para o batismo, e os penitentes públicos purificados, pela penitência, para a restauração da sua vida sacramental em comunhão com o resto da Igreja. Portanto, a Quaresma, é mais tempo de cura do que de punição.”
Tempo e Liturgia, Thomas Merton (Editora Vozes, Petrópolis), 1968. p. 117