25 julho 2005

A presença do dom

“ Há, na vida espiritual, uma fase em que encontramos Deus em nós — essa presença é um efeito criado do seu amor. É um dom de seu amor por nós. Permanece em nós. Todos os dons de Deus são bons. Mas, se neles nos detemos em lugar de repousar nele, perdem, para nós, a sua bondade. O mesmo sucede com esse dom.

Quando chega a hora determinada de passarmos a outras coisas, retira o Senhor o sentimento de sua presença, de maneira a fortalecer-nos a fé. É então inútil procurá-lo por meio de algum efeito psicológico. Inútil buscar qualquer sensação dele em nossos corações. Chegou a hora em que temos de sair de nós mesmos e subir acima de nós mesmos e achá-lo não mais dentro de nós, e sim, fora de nós e acima de nós (…) a serviço de nossos irmãos.
Thoughts in Solitude, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux Publishers, New York), 1958. p. 54
No Brasil: Na liberdade da solidão, (Editora Vozes, Petrópolis), 2001. p. 45
Reflexão da semana de 25-07-2005

18 julho 2005

Ansiedade

“ Em nossa época, tudo tem de ser “problema”. Nosso tempo é de ansiedade, porque assim o quisemos. Nossa ansiedade não nos é imposta, à força, do exterior. Nós a impomos ao mundo em que vivemos e a impomos uns aos outros.

A santidade, numa tal época, significa, sem dúvida, transportar-se da região da ansiedade à região em que não existe ansiedade. Ou talvez signifique aprender de Deus a não ter ansiedade em meio à ansiedade.

No fundo, como realça Max Picard, provavelmente resume-se nisso: viver num silêncio que reconcilie as contradições dentro de nós a tal ponto que, embora em nós permaneçam, deixam de constituir um problema (World of Silence, p. 66-67).

Sempre existiram contradições na alma do homem. Entretanto, estas só se tornam um constante e insolúvel problema quando preferimos, ao silêncio, a análise. Não nos cabe resolver todas as contradições, e sim viver com elas e nos elevarmos acima delas, e considerá-las à luz de valores externos e objetivos que, por comparação, as tornam triviais.
Thoughts in Solitude, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux Publishers, New York), 1958. p. 84-85
No Brasil: Na liberdade da solidão, (Editora Vozes, Petrópolis), 2001. p. 67
Reflexão da semana de 18-07-2005

11 julho 2005

Atividade e descanso

“ Porque o nosso ser exige expressão em atos, não creiamos que, cessando de agir, cessamos de existir. Não vivemos só para “fazer alguma coisa”, não importa o quê. A atividade é justamente uma das expressões normais da vida, e a vida que ela expressa é tanto mais perfeita quanto mais ela se mantém numa ordenada economia de ação. Essa ordem exige sábia alternativa de atividade e descanso. Não vivemos mais plenamente por fazer mais, ver mais, provar mais e experimentar mais do que antes. Pelo contrário, alguns de nós precisamos descobrir que não começaremos a viver mais plenamente enquanto não tivermos a coragem de fazer, de ver, de provar e de experimentar muito menos do que de costume.”

No Man is an Island, de Thomas Merton
(Harcourt, Brace Jovanovich Inc., New York), 1983. p. 122
No Brasil: Homem algum é uma ilha, (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 113
Reflexão da semana de 11-07-2005

04 julho 2005

A ilusão do barulho

“ Os que amam o ruído que fazem, são impacientes com o resto. Desafiam constantemente o silêncio das florestas, das montanhas e do mar. Passeiam com suas máquinas, através da floresta silenciosa, em todas as direções, cheios de medo de que um mundo calmo os acuse de vazios. A pressa da sua velocidade, sob pretexto de um fim, simula ignorar a tranqüilidade da natureza. O avião ruidoso, por sua trajetória, por seu estrondo, por sua força aparente, parece por um momento negar a realidade das nuvens e do céu. Vai-se o avião, e fica o silêncio do céu. Afasta-se ele, e a tranqüilidade das nuvens permanece. O silêncio do mundo é que é real. O nosso barulho, os nossos negócios, os nossos planos e todas as nossas fátuas explicações sobre o nosso barulho, negócios e planos, tudo isso é ilusão.”

No Man is an Island, de Thomas Merton
(Harcourt, Brace Jovanovich Inc., New York), 1983. p. 257
No Brasil: Homem algum é uma ilha, (Verus Editora, Campinas), 2003. p. 216
Reflexão da semana de 4-07-2005