27 outubro 2008

Deve-se manter a esperança

“ Temo a ignorância e o poder dos Estados Unidos. E o fato de que subitamente se tenha tornado uma das sociedades mais decadentes da face da Terra. O corpo de uma criança enorme, morta, açucarada. Contudo, não morta: cheia de um poder imenso, descontrolado. Louca.

Se alguém não entender os Estados Unidos sem demora - e comunicar algo desse entendimento aos Estados Unidos - os resultados serão terríveis. Não foi por acaso que os Estados Unidos dotaram o mundo da Bomba.

Uma mescla de imaturidade, tamanho, indulgência e depravação manifestas, com ocasionais espasmos de culpa, poder, ódio por si mesmos, beligerância, alternância de ferocidade e apatia, hiper-excitação e insanidade, inarticulação e desejo de ser popular. Você precisa de um médico, Tio Sam!

Turning Toward the World, de Thomas Merton
Editado por Victor A. Kramer
(HarperSanFrancisco, São Francisco) 1996, p. 60-61
Reflexão da semana de 27-10-2008

Um pensamento para reflexão: “Por que sou tão propenso a acreditar que o país será destruído? Sem dúvida é possível, e, em certo sentido, pode até ser provável. Mas se trata de um caso em que, apesar das evidências, deve-se manter a esperança. Não se deve sucumbir ao derrotismo e ao desespero, assim como se deve ter esperança de viver mesmo com uma doença mortal que tenha sido declarada incurável.”
Turning Toward the World, Thomas Merton

20 outubro 2008

Oculto mas Vivo

“ A contemplação […] é a própria vida plenamente despertada, plenamente ativa, plenamente consciente de que está viva. É um prodígio espiritual, uma admiração. Um temor espontâneo, reverencial, diante do caráter sagrado da vida, do ser. É gratidão pelo Dom da vida, pela consciência despertada, pelo ser. É a consciência viva do fato de que, em nós, a vida e o ser procedem de uma Fonte invisível, transcendente e infinitamente abundante. A contemplação é, acima de tudo, a consciência da realidade dessa Fonte. Ela conhece a Fonte, obscuramente, de modo inexplicável, mas com uma certeza que vai além, tanto da razão como da simples fé. […] É fé em maior profundidade, conhecimento demasiadamente penetrante para poder ser captado em imagens, palavras ou mesmo conceitos claros. […]

A contemplação é também a resposta a um chamado. Um chamado daquele que não tem voz e no entanto se faz ouvir em tudo que existe, e que, sobretudo, fala nas profundezas de nosso próprio ser, pois nós somos palavras dele. Mas somos palavras que existem para responder a Ele, atendê-lo, fazer-lhe eco e mesmo, de certo modo, para estarem repletas dele, contê-lo e significá-lo. A contemplação é esse eco. É uma profunda ressonância no mais íntimo centro de nosso espírito, onde nossa própria vida perde sua voz específica e ecoa a majestade e a misericórdia daquele que é oculto mas Vivo.


New Seeds of Contemplation, de Thomas Merton
(New Directions, New York), 1962. p. 1-3

No Brasil: Novas sementes de contemplação (Editora Fissus, Rio de Janeiro). 2001. p.9 e 11
Reflexão da semana de 20-10-2008

Um pensamento para reflexão: “Por isso a contemplação é mais do que mero considerar de verdades abstratas sobre Deus; mais até, do que a meditação afetiva das coisas em que cremos. É um despertar, uma iluminação, e a apreensão intuitiva, espantosa, com que o amor se certifica da intervenção criadora e dinâmica de Deus em nossa vida cotidiana.”
Novas sementes de contemplação, Thomas Merton

13 outubro 2008

Meu próprio caminho e o público

“ Não me considero integrado à sociedade belicosa em que vivo, mas o problema é que essa sociedade me considera integrado a ela. Observo que, há quase vinte anos, minha sociedade - ou os que nela lêem meus livros – decidiu uma identidade para mim, e insiste em que eu continue a corresponder perfeitamente à idéia de minha pessoa que eles encontraram ao ler meu primeiro livro de sucesso [A Montanha dos Sete Patamares, sua autobiografia, publicada em 1948]. Simultaneamente, contudo, as mesmas pessoas prescrevem para mim uma identidade contrária. Exigem que eu continue sendo para sempre o jovem monge superficialmente piedoso, bastante rígido e com uma mentalidade um tanto estreita que eu era vinte anos atrás e, ao mesmo tempo, fazem circular continuamente rumores de que saí do meu mosteiro. O que de fato aconteceu foi apenas que tenho vivido onde estou e desenvolvido meu próprio caminho sem consultar o público a esse respeito, pois isso não é da conta do público.”

Raids on the Unspeakable, de Thomas Merton
(New Directions Press, New York), 1964, p. 172
Reflexão da semana de 13-10-2008

Um pensamento para reflexão
: “Estou convencido de que as páginas deste diário me mostram como sou: ruidoso, cheio da algazarra de imperfeições e paixões, e das feridas abertas deixadas pelo pecado, cheio de defeitos, invejas e tormentos, cheio de meu próprio vazio intolerável.
Entering the Silence, Thomas Merton

06 outubro 2008

Irrelevância

“ Monges, hippies e poetas são importantes? Não, decididamente não temos qualquer importância. Vivemos com a inerente irrelevância, própria do ser humano. O homem marginal aceita a irrelevância básica da condição humana, irrelevância que se manifesta, sobretudo, no fato da morte. A pessoa marginal, o monge, o excluído, o prisioneiro, todos esses vivem na presença da morte; […] e a missão do monge ou da pessoa marginal; da pessoa meditativa ou do poeta é ultrapassar a morte mesmo nesta vida, ultrapassar a dicotomia da vida e da morte e ser, portanto, testemunha da vida.”

The Asian Journal of Thomas Merton
(New Directions Publishing Corp. New York), 1975 p. 305
No Brasil: O Diário da Ásia de Thomas Merton, (Ed. Vega, Belo Horizonte), 1978, p.241
Reflexão da semana de 06-10-2008

Um pensamento para reflexão: “Hoje [outubro de 1968] verificamos de maneira muito aguda, na América, que, essencialmente, o monge não se enquadra dentro de nenhuma instituição. Ele não faz parte de um ‘establishment’. Ele é uma pessoa marginal que deliberadamente se afasta para a margem da sociedade com a intenção de aprofundar a experiência fundamental do homem.”
O Diário da Ásia de Thomas Merton