30 abril 2007

A fé em tempo de luta

“ A fé nos diz, é claro, que vivemos em um tempo de luta escatológica, enfrentando um árduo combate que conjura todas as forças do mal e das trevas contra a verdade ainda invisível, mas que este combate já está decidido pela vitória de Cristo sobre o pecado e a morte.

O cristão pode renunciar à proteção da violência e correr o risco de ser humilde, e portanto vulnerável, não por confiar na suposta eficácia de uma tática suave e persuasiva que desarmará o ódio e abrandará a crueldade, mas por acreditar que o poder oculto do Evangelho está pedindo para ser manifestado em e através de sua própria pobre pessoa.

Assim sendo, em perfeita obediência ao Evangelho, apaga-se a si mesmo e a seus próprios interesses e até arrisca sua vida para dar testemunho, não apenas ‘da verdade’ em sentido idealista e puramente platônico, mas da verdade que é encarnada em uma situação humana concreta, envolvendo pessoas vivas cujos direitos são negados ou cujas vidas estão ameaçadas.”


Faith and Violence: Christian Teaching and Christian Practice, de Thomas Merton:
(University of Notre Dame Press, Notre Dame, Indiana), 1968, p. 18-19
Reflexão da semana 30-04-2007

Um pensamento para reflexão: “Um santo zelo pela causa da humanidade no abstrato às vezes pode ser mero desamor e indiferença pelos seres humanos vivos e concretos. Quando apelamos para os ideais mais elevados e nobres, somos mais facilmente tentados a odiar e condenar aqueles que, a nosso ver, atrapalham perversamente sua realização.”
Faith and Violence, Thomas Merton

23 abril 2007

Para os que estão de luto

“ O amor é a epifania de Deus em nossa pobreza. Assim, a vida contemplativa é a busca de paz não em uma exclusão abstrata de toda realidade externa, não em um fechamento estéril e negativo dos sentidos ao mundo, mas na abertura do amor. [A vida contemplativa] começa com a aceitação do meu próprio eu em minha pobreza e quase desespero para que eu possa reconhecer que onde Deus está não pode haver desespero, e Deus está em mim, mesmo se eu me desesperar.

Nada pode mudar o amor de Deus por mim, pois minha própria existência é o sinal de que Deus me ama, e a presença de Seu amor me cria e me sustenta. Tampouco é necessário, em absoluto, entender ou explicar como é possível, nem resolver os problemas que isto parece levantar. Isto porque, em nossos corações e no próprio fundamento do nosso ser há uma certeza natural que é co-extensiva com nossa própria existência: a certeza que diz que, na medida em que existimos, somos cada vez mais penetrados pelo senso e pela realidade de Deus, embora talvez sejamos profundamente incapazes de acreditar nisto ou vivenciá-lo em termos filosóficos ou mesmo religiosos.

A mensagem de esperança [que lhes transmito, portanto,] não é que precisam encontrar seu caminho em meio ao emaranhado da linguagem e dos problemas que hoje cercam Deus, e sim que, quer você entenda ou não, Deus o ama, está presente em você, vive em você, habita em você, chama-o, salva-o e lhe oferece uma compreensão e uma luz diferentes de tudo que você jamais encontrou em livros e ouviu em sermões.

[Não tenho] nada a contar, mas quero tranqüilizá-lo e dizer que, se ousar penetrar em seu próprio silêncio e correr o risco de compartilhar essa solidão com o outro solitário que procura Deus através de você, você realmente recuperará a luz e a capacidade de entender o que está além de palavras e explicações porque está perto demais para ser explicado: é a união íntima, na profundeza do seu próprio coração, do espírito de Deus com o seu eu mais interior e secreto, de forma que você e Deus sejam, com toda verdade, Um Espírito. Eu o amo, em Cristo.”

The Hidden Ground of Love, de Thomas Merton
Editado por William H Shannon
(Farrar, Straus & Giroux, New York), 1985. p. 157-158
Reflexão da semana 23-04-2007

Um pensamento para reflexão: “Nada faz sentido se não admitirmos o que diz John Donne: 'Homem algum é uma ilha, inteiro em si mesmo; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme.'"
Homem algum é uma ilha, Thomas Merton

16 abril 2007

Procurar Deus em todas as coisas

“ Devemos procurar Deus em todas as coisas. Mas não O buscamos como se procura um objeto perdido, uma ‘coisa’. Ele está presente a nós em nosso coração, em nossa subjetividade pessoal. Procurá-lo é reconhecer este fato. Contudo, só podemos ter consciência desta realidade se Ele nos revelar sua presença. Ele não se revela simplesmente em nosso próprio coração. Revela-se a nós na Igreja, na comunidade dos que crêem, na koinonia [assembléia litúrgica] dos que nele confiam e o amam.

Procurar Deus não é apenas uma operação do intelecto, nem sequer uma iluminação contemplativa da mente. Procuramos Deus ao esforçar-nos para nos entregar a Ele, que não vemos, mas que está em todas as coisas, através de todas as coisas e acima de todas as coisas.”

Seasons of Celebration, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux, New York), 1965. p. 223-224
No Brasil: Tempo e Liturgia, (Editora Vozes, Petrópolis), 1968. p. 224
Reflexão da semana de 16-04-2007



Um pensamento para reflexão: “Possuímos a graça de Cristo, único que pode nos libertar do ‘corpo desta morte’. Aquele que está em nós é maior do que o mundo. Ele ‘venceu o mundo’.”
Tempo e liturgia, Thomas Merton

09 abril 2007

Partilhando da vitória de Cristo

“ Não é a observância obrigatória que nos preserva do pecado, mas algo de muito maior: é o amor. E esse amor não é algo que desenvolvamos apenas com nossas próprias forças. É um dom sublime da misericórdia divina, e o fato de que vivemos na consciência dessa misericórdia e desse dom é a maior fonte de crescimento para o nosso amor e nossa santificação.

Esse dom, essa misericórdia, esse amor ilimitado de Deus por nós, foi derramado sobre nós como resultado da vitória de Cristo. Saborear esse amor é partilhar de sua vitória. Ter consciência de nossa liberdade, exultar em nossa liberação da morte, do pecado, da Lei, é cantar o aleluia que glorifica realmente a Deus neste mundo e no mundo que há de vir.”

Seasons of Celebration, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux, New York), 1965. p. 156-157
No Brasil: Tempo e Liturgia, (Editora Vozes, Petrópolis), 1968. p. 159
Reflexão da semana de 09-04-2007

Um pensamento para reflexão: “Cada dia é uma nova aurora daquele lumen Christi, a luz de Cristo que não conhece ocaso.”
Tempo e liturgia, Thomas Merton

02 abril 2007

A lei de um amor misericordioso

“ O cristão não tem outra Lei senão Cristo. Sua “Lei” é a vida nova que lhe foi conferida em Cristo. A nossa Lei não está escrita em livros, e sim nas profundezas do nosso coração; não pela mão de seres humanos, mas pelo dedo de Deus. O nosso dever agora não é apenas obedecer, e sim viver. Não temos de nos salvar, somos salvos por Cristo. Devemos viver para Deus em Cristo, não só como quem procura a salvação, mas como quem está salvo.”

Seasons of Celebration, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux, New York), 1965. p. 147
No Brasil: Tempo e Liturgia, (Editora Vozes, Petrópolis), 1968. p. 150
Reflexão da semana de 02-04-2007

Um pensamento para reflexão: “Mas agora, com a ressurreição de Cristo, o poder da Páscoa irrompeu sobre nós. Agora, encontramos em nós uma força que não é nossa e que nos é dada livremente sempre que dela necessitamos, elevando-nos acima da Lei, dando-nos uma nova Lei que se acha escondida em Cristo: a lei do Seu amor misericordioso por nós.”
Tempo e liturgia, Thomas Merton