25 maio 2009

A preparação para a vida contemplativa

“Isso nos dará alguma idéia do tipo de preparação necessária à vida contemplativa. É uma vida calma, no campo, em contato com o ritmo da natureza e com as estações. Uma vida na qual há trabalho manual, exercício de artes e ofícios, não em espírito diletante, mas realmente ligadas às necessidades da vida de cada um. Cultivo da terra, criação de animais, jardinagem. Uma vasta e séria cultura literária, musical e artística, também não no sentido da revista Time and Life (uma introdução tagarela a Ticiano, a Praxíteles e Jackson Pollock), mas uma apreciação autêntica e criativa do modo como poemas, quadros, etc., são feitos. Uma vida na qual há lugar para conversas sérias, mas pouco ou nenhum espaço para a TV. Mencionamos essas coisas não para insistir em que só a vida no campo pode preparar para a contemplação, mas para mostrar o tipo de exercício necessário.”

The Inner Experience
, de Thomas Merton
Editado por William H. Shannon
(HarperSanFrancisco, San Francisco) 2003, p. 113
No Brasil: A Experiência Interior, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2007. p. 188-189.
Reflexão da semana de 25-05-2009

Um pensamento para reflexão
: “Há outro aspecto essencial no cristianismo: o interior, o silencioso, o contemplativo, no qual a sabedoria oculta é mais importante do que a ciência prática organizacional, e no qual o amor substitui a vontade de obter resultados visíveis.”
Amor e Vida, Thomas Merton

18 maio 2009

Amor: embrulhando-o num pacote bonito

“ (…) Nossa filosofia de vida não é algo que criamos por nós mesmos do nada. Nossas maneiras de pensar, até nossas atitudes em relação a nós mesmos, são cada vez mais determinadas de fora. Até mesmo nosso amor tende a se encaixar em formas pré-fabricadas. Consciente ou inconscientemente, talhamos nossas noções de amor pelos modelos com que estamos em contato dia após dia…

O amor é considerado uma transação. A transação pressupõe que todos nós tenhamos necessidades que devem ser satisfeitas por meio de trocas. Para fazer uma transação, você tem de comparecer ao mercado com um produto de valor ou, se o produto não tem valor, você pode dar um jeito com uma embalagem bonita. Inconscientemente pensamos em nós mesmos como objetos à venda no mercado. Desejamos ser desejados. Queremos atrair clientes. Queremos ter a aparência do tipo de produto que dá dinheiro. (…) Ao fazermos isso, passamos a considerar a nós mesmos e aos outros não como pessoas, mas como produtos, ‘mercadorias’ ou, em outras palavras, embalagens. Avaliamos uns aos outros comercialmente. Mediamos uns aos outros e fazemos transações visando ao nosso próprio lucro. Não nos entregamos no amor; fazemos uma transação que valorizará nosso produto e, portanto, não há transação definitiva. Já estamos com os olhos na próxima transação – e essa próxima transação não precisa ser necessariamente com o mesmo cliente. A vida é mais interessante quando você faz muitas transações com muitos clientes novos.”

Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 29
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2.004. p. 29-31

Reflexão da semana de 18-05-2009

Um pensamento para reflexão
: “O problema dessa idéia comercializada de amor é que ela desvia cada vez mais a atenção do essencial para os acessórios do amor. Você não é mais capaz de amar realmente a outra pessoa, porque se torna obcecado pela eficácia de sua própria embalagem, por seu próprio produto, por seu próprio valor de mercado.”
Amor e Vida, Thomas Merton

11 maio 2009

A pessoa precisa ser resgatada do indivíduo

“Temos de ser salvos da imersão no mar de mentiras e de paixões denominado ‘o mundo’. Temos, sobretudo, de ser salvos desse abismo de confusão e absurdo que é o nosso próprio ser mundano. A pessoa precisa ser resgatada do indivíduo. O filho de Deus, livre, tem de ser salvo da escravidão conformista da fantasia, da paixão e da convenção. O ser íntimo – misterioso e criador – tem de ser libertado do ego esbanjador, hedonista e destruidor que procura apenas cobrir-se com disfarces.”


New Seeds of Contemplation, de Thomas Merton
(New Directions, New York), 1961. p. 38
No Brasil: Novas Sementes de Contemplação, (Editora Fissus, Rio de Janeiro), 2001. p. 46
Reflexão da semana de 11-05-2009

Um pensamento para reflexão: “Se Ele não pronunciar a Si mesmo em ti, se não disser Seu nome no centro de tua alma, não O conhecerás melhor do que uma pedra conhece o solo em que repousa em sua inércia.”
Novas Sementes de Contemplação, Thomas Merton

04 maio 2009

Travessuras de um monge

“Ontem, o Padre Celereiro [ecônomo do mosteiro] emprestou-me o jipe. Não o pedi, ele me emprestou por pura bondade de seu coração, para que eu pudesse ir até o lado mais distante das colinas. Eu nunca tinha dirigido antes... Ontem peguei o jipe e fui embora alegremente pelo bosque. Tinha chovido muito. Todos os caminhos estavam enlameados. Levei algum tempo para descobrir como acionar a tração dianteira. Derrapei e caí em valas, tornei a sair, atravessei arroios, atolei na lama, bati em árvores e uma vez, quando estava na estrada principal, o motor afogou quando eu estava tentando desengatar a tração dianteira e acabei atravessado no meio da estrada enquanto um carro descia a ladeira direto em direção a mim. Graças a Deus continuo vivo. Naquela hora eu não parecia me importar em viver ou morrer. Dirigi o jipe loucamente pelo bosque, em uma névoa rosada de confusão e delícia. Sacolejamos sobre toscas pontes de madeira e eu disse 'Oh, Maria, eu te amo' ao passar por poças de um palmo e meio de profundidade, correndo como um louco pelo mato baixo e saindo de novo.

Por fim trouxe aquela coisa de volta ao mosteiro coberta de lama de cabo a rabo. Durante as Vésperas fiquei no coro tonto com o pensamento de 'eu dirigi um jipe'.”

Entering the Silence, Journals volume 2, de Thomas Merton
Editado por Jonathan Montaldo
(HarperSanFrancisco, San Francisco), 1997, p. 387.
Reflexão da semana de 04-05-2009

Um pensamento para reflexão: “O Padre Celereiro só me fez um sinal de que nunca, em hipótese alguma, eu deveria sair outra vez com o jipe.”
Entering the Silence, Thomas Merton