26 março 2007

Culto público e personalismo

“ A contemplação é um dom de Deus dado na sua Igreja e através dela e de sua oração. Santo Antão foi levado ao deserto, não por uma voz particular, mas pela palavra de Deus proclamada na igreja de sua aldeia egípcia, no canto do Evangelho na língua copta — um exemplo clássico da liturgia abrindo o caminho para uma vida de contemplação! A liturgia, porém, não pode cumprir esta função se não compreendermos ou se subestimarmos o valor essencialmente espiritual da oração pública cristã. Se nos aferrarmos a noções imaturas e limitadas do que é ‘privacidade’, nunca poderemos nos libertar das amarras do individualismo. Jamais compreenderemos a maneira como a Igreja nos liberta de nós mesmos pelo culto público, cujo caráter precisamente público tende a nos ocultar no ‘segredo da face de Deus’”

Seasons of Celebration, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux, New York), 1965. p. 26-27
No Brasil: Tempo e Liturgia, (Editora Vozes, Petrópolis), 1968. p. 30-31
Reflexão da semana de 26-03-2007

Um pensamento para reflexão: “O amor é a garantia de que a vida do Espírito está crescendo em nós — o amor é o sinal do Espírito Santo operando na Igreja e no mundo.”
Tempo e liturgia, Thomas Merton

19 março 2007

O paradoxo do personalismo cristão

“ É precisamente por ser pública, no sentido clássico da palavra, ou ‘política’, que a liturgia permite que descubramos e expressemos o sentido mais profundo do personalismo cristão. Primeiro é preciso sair do âmbito privado, ‘doméstico’, que é o espaço da necessidade, próprio às crianças e aos escravos, que ainda não têm pensamento próprio e estão completamente absorvidos por suas necessidades corporais e emocionais. Devemos ser capazes de deixar de lado a preocupação ‘econômica’ em relação ao nosso eu superficial e emergir à luz da pólis cristã, onde cada um vive, não para si, mas para os outros, assumindo a responsabilidade pelo todo. É claro que ninguém assume esta responsabilidade por mera obediência a um capricho arbitrário, ou na ilusão de ser capaz de carregar nos próprios ombros os problemas de toda a Assembléia. Emerge-se ‘em Cristo’ para partilhar o trabalho e o louvor do Cristo total, e para isto tem de sacrificar seu próprio eu superficial e particular. O fruto paradoxal deste sacrifício do eu trivial e ‘egoísta’ (ou apenas imaturo) é que a pessoa se torna apta a descobrir seu eu profundo, em Cristo.”

Seasons of Celebration, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux, New York), 1965. p. 25
No Brasil: Tempo e Liturgia, (Editora Vozes, Petrópolis), 1968. p. 29-30
Reflexão da semana de 19-03-2007

Um pensamento para reflexão: “O mais alto paradoxo do personalismo cristão é ser um indivíduo ‘encontrado em Jesus Cristo’ e, assim, ‘perdido’ para tudo aquilo que, do ponto de vista mundano, pode ser considerado como sendo o seu ‘eu’. Isto significa ser, ao mesmo tempo, você e Cristo.”
Tempo e liturgia, Thomas Merton

12 março 2007

O que dará o homem em troca de sua alma?

O que dará o homem em troca de sua alma? Esta frase é o próprio cerne do personalismo cristão. Nossa alma é insubstituível, não pode ser trocada por nada no céu ou na terra. Mas, enquanto não tivermos ouvido Cristo falar, recebido seu chamado em meio à assembléia cristã (toda vocação à fé vêm, ao menos implicitamente, através da Igreja) e dado a Ele aquela resposta secreta e singular que ninguém pode pronunciar por nós, enquanto não tivermos assim nos encontrado Nele, não poderemos compreender plenamente o que significa ser uma ‘pessoa’ no sentido mais profundo da palavra.”

Seasons of Celebration, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux, New York), 1965. p. 24
No Brasil: Tempo e Liturgia, (Editora Vozes, Petrópolis), 1968. p. 28
Reflexão da semana de 12-03-2007

Um pensamento para reflexão: “Personalismo cristão é a partilha sacramental do segredo íntimo da personalidade no mistério do amor. Esta partilha exige pleno respeito pelo mistério da pessoa, seja ela nossa própria pessoa, a do próximo, ou o segredo infinito de Deus.”
Tempo e liturgia, Thomas Merton

05 março 2007

A finalidade do ascetismo cristão

“ Não podemos usar as coisas criadas para a glória de Deus se não temos controle sobre nós mesmos. Não podemos ter controle sobre nós mesmos se estamos sujeitos ao poder dos desejos, dos apetites e das paixões da carne. Não nos podemos entregar a Deus se não pertencemos a nós mesmos. E não pertencemos a nós mesmos se pertencemos ao nosso ego.

A verdadeira finalidade do ascetismo cristão, portanto, não é libertar a alma dos desejos e das necessidades do corpo, e sim colocar o homem todo numa completa submissão à vontade de Deus expressa nas exigências concretas da vida em toda a sua realidade existencial. Uma espiritualidade que apenas encerre o homem no isolamento de sua própria vontade e de seu próprio ego, fora do alcance de todas as exigências da carne, da história e do tempo, seria não só vã, mas também serviria, talvez, para confirmá-lo no mal daquela autonomia espúria que é surda ao apelo da salvação e da obediência proclamado no Kérygma do Evangelho.” [a proclamação, o anúncio e a pregação do Reino, por Cristo, nos Evangelhos.)]

Seasons of Celebration, de Thomas Merton
(Farrar, Straus and Giroux, New York), 1965. p. 138
No Brasil: Tempo e Liturgia, (Editora Vozes, Petrópolis), 1968. p. 141
Reflexão da semana de 05-03-2007

Um pensamento para reflexão: “Seja qual for a forma ou a medida de abnegação que o Senhor nos pedir (e isso é algo que não pode ser resolvido sem oração e orientação espiritual), todo ascetismo cristão se caracteriza pelo fato de ser inteiro e equilibrado.”
Tempo e liturgia, Thomas Merton