23 maio 2005

A capacidade de amar

“ A maior dignidade do homem, seu poder essencial e peculiar, o segredo mais íntimo daquilo que constitui sua humanidade, é a capacidade que ele tem de amar. Esse poder escondido nas profundezas da alma humana imprime no homem a imagem e semelhança de Deus. Diferentes das demais criaturas que nos cercam, temos o poder de penetrar no mais íntimo santuário do nosso próprio ser. Podemos penetrar em nós como em templos de liberdade e de luz. Podemos abrir os olhos de nosso coração e contemplar face a face Deus, nosso Pai. Podemos com Ele falar e ouvir-lhe a resposta. E Ele nos diz não apenas que somos chamados a viver como homens e dominar o mundo, mas que temos uma vocação ainda mais elevada. Somos seus filhos.”

Disputed Questions, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, San Diego, CA), 1960. p. 98
No Brasil: Questões abertas, (Agir Editora, Rio de Janeiro), 1963. p. 116
Reflexões da semana de 23-05-2005

16 maio 2005

O poder sobre o mundo e a infelicidade

“ A infelicidade do homem parece ter aumentado na proporção do seu poder sobre o mundo externo. E, se alguém pretende possuir uma resposta pronta a esse fato, tome cuidado para não ser também vítima de uma ilusão. Pois, afinal, não deveria isso necessariamente ser assim. Deus fez o homem rei da criação, e toda ciência digna desse nome participa, de algum modo, da sabedoria e da providência do Criador. Mas a desordem está em que as realizações da sabedoria, do conhecimento e poder do homem não têm valor real algum para o mundo em que vive, se não participam do amor misericordioso de Deus. Nada conseguem para torná-lo feliz e não tornam manifesta ao mundo a glória de Deus.

Disputed Questions, de Thomas Merton
(Harcourt Brace Jovanovich, San Diego, CA), 1960. p. 98
No Brasil: Questões abertas, (Agir Editora, Rio de Janeiro), 1963. p. 115-116
Reflexão da semana de 16-05-2005

09 maio 2005

Respostas obrigatórias

“ Tenho uma profunda desconfiança de todas as respostas obrigatórias. O grande problema de nosso tempo não é formular respostas claras para questões teóricas bem apresentadas (…) A maneira de encontrar o verdadeiro “mundo” não está em apenas observar e medir o que se acha fora de nós, mas sim em descobrir o íntimo de nosso ser. Pois é aí que se encontra o mundo em primeiro lugar: no meu mais profundo eu. Mas acontece que descubro ali que o mundo é bem diferente das “respostas obrigatórias”. Essas “bases”, esse “mundo” onde estou misteriosamente presente ao mesmo tempo a mim mesmo e às liberdades de todos os homens, não é um objetivo visível e uma determinada estrutura com leis fixas e exigências. É um mistério vivo e autocriador do qual sou uma parte, e para o qual sou a única porta de acesso. Quando encontro o mundo no mais profundo do meu ser, é-me impossível ser por ele ‘alienado’.”

Contemplation in a World of Action, de Thomas Merton
(Image Books, uma divisão da Doubleday & Co., Garden City, NY), 1973. p. 168 e 170
No Brasil: Contemplação num mundo de ação, (Editora Vozes, Petrópolis), 1975. p. 152 e 154
Reflexões da semana de 9-05-2005

02 maio 2005

O divino na natureza das coisas

“ Verdadeiro tempo de primavera — estes são os dias quando tudo muda. Brotam folhas em todas as árvores e o começo de um verde frescor do novo verão permeia as colinas. Insubstituível pureza desses dias escolhidos por Deus como seu sinal!

Mistura do celestial com a angústia. Ver subitamente o celestial, por exemplo, no branco puro das flores da macieira contra um fundo de pinheiros escuros num jardim nublado. O celestial também na canção do pássaro desconhecido que lá está de passagem, talvez apenas por estes dias, profunda e simples canção de amor. Arrebata-me esta ‘celestialidade’ como eu fosse uma criança — uma mente de criança que nada fiz por merecer e que é minha própria parte na primavera celestial. Não é deste mundo, nem por mim foi criada. Nascida, em parte, de angústia física (que, entretanto, não está realmente ali. Vai-se depressa). A percepção de que o celestial é a verdadeira natureza das coisas, não sua natureza, e sim o fato de que são um dom de amor e de liberdade.”

A Year with Thomas Merton, Daily Meditations from His Journals
Selecionado e editado por Jonathan Montaldo
(HarperSanFrancisco, A Division of HarperCollinsPublishers, New York), 2004, p. 120.
Reflexões da semana de 02-05-2005