23 fevereiro 2009

A atitude sagrada

“ O problema básico e mais fundamental da vida espiritual é a aceitação do nosso eu oculto e sombrio, com o qual temos a tendência de identificar todo o mal que há em nós. Devemos aprender a separar, pelo discernimento, o mal resultante de nossas ações daqueles dos bons fundamentos da nossa alma. Devemos, além do mais, preparar o terreno para que dele possa brotar uma vida nova em nós, sem nosso conhecimento e sem nosso controle consciente. A atitude sagrada é, então, uma vida de reverência, admiração e silêncio ante o mistério que começa a surgir em nós ao termos consciência do nosso eu mais profundo. Em silêncio, esperança, expectativa e desprendimento, o homem de fé abandona-se à vontade divina – não como a um poder mágico e arbitrário cujos decretos são formulados através de enigmas misteriosos – mas sim à corrente da realidade e da própria vida. A atitude sagrada é, assim, uma atitude de profundo e fundamental respeito por tudo que é real, qualquer que seja a nova forma com que se apresente.”

The Inner Experience, de Thomas Merton
Editado por William H. Shannon(HarperSanFrancisco, San Francisco) 2003, p. 55
No Brasil: A Experiência Interior, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2007. p. 78-79.
Reflexão da semana de 23-02-2009

Um pensamento para reflexão: “ Há uma ligação sutil, porém incontestável, entre a atitude ‘sagrada’ e a aceitação de nosso eu mais profundo.”
A Experiência Interior, Thomas Merton

16 fevereiro 2009

Encontrar minha alegria

“ Justifica minh’alma, ó Deus, mas que também de Tuas fontes o fogo encha minha vontade. Brilha em minha mente, o que talvez signifique ‘sê escuridão em minha experiência’, mas ocupa meu coração com tua Vida formidável. Que meus olhos neste mundo só enxerguem Tua glória, que minhas mãos nada toquem a não ser em Teu serviço. Que só prove minha língua o pão que me fortalece para louvar Tua imensa misericórdia. Ouvirei a Tua voz, ouvirei todas as harmonias que criaste ao cantares os teus hinos. Lã das ovelhas e algodão dos campos me aquecerão, e viverei ao Teu serviço; o resto, darei aos pobres. Deixa-me usar todas as coisas por uma só razão: encontrar minha alegria em dar-Te glória.”

New Seeds of Contemplation
, de Thomas Merton

(New Directions, New York), 1961. p. 44
No Brasil: Novas Sementes de Contemplação, (Editora Fissus, Rio de Janeiro), 2001. p. 50-51
Reflexão da semana de 16-02-2009


Um pensamento para reflexão: “Pois só uma coisa há que satisfaça e recompense o amor: tu, somente tu.”
Novas Sementes de Contemplação, Thomas Merton

09 fevereiro 2009

O nascimento divino dentro de nós

“ O que é que torna a vida do homem ‘divina’? Com certeza, se essa qualidade especial o caracteriza, ela deve ser, em certo sentido, reconhecível. A vida ‘divina’ caracteriza-se, de fato, por uma fé que liberta o homem de todas as formas de servidão, até, e talvez especialmente, em questões religiosas (ver Gálatas passim). Essa fé o coloca sob a orientação direta do Espírito Santo de amor que vive na Igreja de Deus. O homem ‘divino’, ou ‘o filho de Deus’, é então paradoxalmente marcado por grande humildade e modéstia. Não é violento, mas clemente e bondoso (Mt 5, 43-48), livre de qualquer necessidade de auto-afirmação agressiva. Não se aflige com as próprias necessidades, mas confia plenamente em Deus para tudo (Mt 6,19-34). O homem que leva uma vida ‘divina’ é, portanto, filho perfeito de Deus à imitação de Cristo que, em todas as coisas, considerava apenas a vontade e o amor de Seu Pai. O homem divino vive em contato constante com a fonte interior da vida divina ou, como teria dito Mestre Eckhart, com ‘o nascimento divino dentro de nós’.”

Love and Living, de Thomas Merton
Editado por Naomi Burton Stone e Patrick Hart, OCSO
(Farrar, Straus and Giroux, New York) 1979, p. 108-109
No Brasil: Amor e Vida, (Martins Fontes Editora, São Paulo), 2.004. p. 115-116
Reflexão da semana de 09-02-2009

Um pensamento para reflexão
: “‘Graça divina’ é, então, o dom da imagem de Deus em uma criatura que é amada por Deus como Seu filho. ”
Amor e Vida, Thomas Merton

02 fevereiro 2009

O medo é a raiz da guerra

“ Toda guerra tem por raiz 0 medo; não tanto o medo que os homens têm uns dos outros, como o medo que têm de tudo. Não se trata apenas da desconfiança que nutrem uns para com os outros; não têm confiança nem em si próprios. Se não estão seguros do momento em que poderá alguém matá-los, estão ainda menos seguros da hora em que eles mesmos poderiam se matar. Não podem ter confiança em coisa alguma, porque deixaram de crer em Deus.

Não é só nosso ódio aos outros que é perigoso, mas também, e sobretudo, o nosso ódio a nós mesmos. E esse ódio a nós mesmos é tão profundo e tão forte que não pode ser enfrentado. Pois é isso que nos faz ver nossa própria maldade nos outros e nos torna incapazes de vê-la em nós mesmos.”

New Seeds of Contemplation, de Thomas Merton
(New Directions, New York), 1961. p. 112
No Brasil: Novas Sementes de Contemplação, (Editora Fissus, Rio de Janeiro), 2001. p. 115
Reflexão da semana de 02-02-2009

Um pensamento para reflexão: “ (…) Nunca vemos a verdade essencial que nos ajudaria a iniciar a solução de nossos problemas éticos e políticos. Essa verdade é estarmos todos mais ou menos errados, estarmos todos em falta, sermos todos limitados, condicionados por nossos motivos pessoais embaralhados, nossa tendência a nos enganarmos a nós próprios, nossa avareza, farisaísmo e tendência à agressividade e à hipocrisia.”
Novas sementes de contemplação, Thomas Merton