
“Nada contribui tanto para
destruir nossa estima para com o Santíssimo Sacramento como a rotina. Celebrar
a Missa automaticamente, aproximar-se dos sacramentos de maneira descuidada e
distraída, é considerar os grandes dons e mistérios de Deus como se fossem
objetos e fatos semelhantes a todas as coisas materiais que fazem parte de
nossa vida. Em tais circunstâncias, nossa fé tende a degenerar em superstição e
vã observância de preceitos; a tornar-se uma espécie de ceticismo prático, sob
a aparência externa de piedoso conformismo. Deus, então, retira-se de nossa
vida e essa ausência se torna patente a todos, menos a nós próprios. A grande
tragédia do nosso tempo – se podemos ter a ousadia de dizê-lo – é que haja
tantos cristãos sem Deus, isto é, cristãos cuja religião é questão de puro
conformismo e conveniência. Para esses, a ‘fé’ pouco mais é que uma evasão
permanente da realidade – uma acomodação com a vida. A fim de evitar a
desagradável verdade de que não têm mais necessidade alguma, real, de Deus,
nenhuma fé vital nele, conformam exteriormente sua conduta à de outros como
eles. Esses ‘crentes’ se agrupam, oferecendo-se mutuamente uma aparente
justificativa para vidas que são, essencialmente, semelhantes às de seus
vizinhos materialistas, cujos horizontes são puramente os do mundo com seus
valores transitórios.”
(Vozes, 1963), pág. 23-24