“ Hoje de manhã fui ao funeral de Herman Hanekamp em New Haven. Começou na geada de manhãzinha. O corpo que estava no velório era o de um milionário, de um grande executivo. Eu nunca vira Herman barbeado, de terno e, ainda menos, de colarinho e gravata. Ele parecia um dos grandes da terra. Carreguei o caixão junto com Andy Boone, e com o velho amigo de Hanekamp Glen Price (um homenzarrão com o rosto vincado como a lateral de uma construção antiga, mas muito humilde e meigo). Os irmãos Clement e Colman também ajudaram a carregá-lo, assim como um homem com uma gravata country…
Quando saímos da igreja para o sol, carregando o caixão, o ar luminoso parecia cheio de grande alegria e um imenso trem de carga atravessava o vale desabalado emitindo um som de poder como um exército. Todo o orgulho do mundo da indústria parecia, de algum modo, ser algo ligado a Herman. Que curiosa obsessão com essa convicção de que ele era um grande homem rico, tremendamente respeitado pelo mundo inteiro! Voltamos para sepultá-lo no cemitério situado perto do portão à saída do mosteiro.
O bosque desfolhado permaneceu sábio e forte ao sol como se orgulhasse de algum grande sucesso conseguido em segredo com sua conivência e consentimento.
Ao carregarmos o caixão pelo cemitério ensolarado, ouvi, encantado: ele era saudado pelo canto das cotovias no segundo dia de janeiro, em pleno inverno.
O que triunfou aqui não é admirado por ninguém, é desdenhado até pelos monges que não conseguiam deixar de pensar em Herman como preguiçoso e escapista. Ele não levara a sério o mundo dos negócios, tão importante para todos nós. E agora ouçam bem - um capitão de indústria!”
Search for Solitude — Journals, Volume 3, de Thomas Merton
Editado por Lawrence S. Cunningham
(HarperSanFrancisco, San Francisco), 1996, p. 245
Reflexão da semana de 25-02-2008
Um pensamento para reflexão: "Herman, que foi noviço aqui (nos dias que precederam a primeira guerra mundial), é um dos pouquíssimos membros, atuais ou passados, da comunidade que eu tive desejo de imitar.”
A Search for Solitude, Thomas Merton
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