29 junho 2015

A vida espiritual na prática



"Para sermos espirituais, temos de permanecer homens. E, se isso não fosse evidenciado em toda parte na teologia, o Mistério da Encarnação seria disso, amplamente, uma prova. Por que Cristo se fez homem senão para salvar os homens unindo-os misticamente a Deus por meio de sua Humanidade? Jesus viveu a vida ordinária dos homens de seu tempo, a fim de santificar as vidas (ordinárias) dos homens de todos os tempos. Se queremos, pois, ser espirituais, vamos em primeiro lugar viver nossa própria vida. Não tenhamos medo das responsabilidades e inevitáveis distrações inerentes à tarefa a nós confiada pela vontade de Deus. Abracemos a realidade; assim nos encontraremos imersos na vontade vivificadora e na sabedoria de Deus, que por toda a parte nos envolve.

Primeiramente, certifiquemo-nos de que sabemos o que estamos fazendo. Só a fé pode dar-nos a luz para vermos que a vontade do Senhor se acha em nossa vida cotidiana. Sem essa luz, não podemos discernir o caminho certo, nem tomar as decisões exatas. Para nos mantermos espiritualmente vivos, temos de renovar constantemente nossa fé. Somos como pilotos de navios, imersos no nevoeiro, escrutando a escuridão diante de nós, tentando ouvir o ruído de outros navios, e só podemos atingir o porto se nos mantivermos alertas. A vida espiritual é, portanto, em primeiro lugar, uma questão de estar desperto."


Na liberdade da solidão, Thomas Merton (Editora Vozes), 7ª Ed. 2014, pág. 39 e 40

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