12 novembro 2007

Elegia para um Trapista


[Para os que apreciaram a reflexão de Merton sobre o Pe. Stephen, o monge das flores, de Gethsemani, que apareceu na semana passada, 5 de novembro, segue um poema escrito após o enterro do Pe. Stephen.]



Talvez no martirológio ainda hoje
Faltem as palavras para descrever-te
Confessor de exóticas rosas
Mártir de indizíveis jardins

A quem sempre lembraremos
Como um amável ser aflito

Generoso e instável penhasco
Cambaleando no claustro
Como um velho trem de carga
Rumo a incerta estação

Mestre do súbito presente jubiloso
Numa avalanche
De catálogos de flores
E de amor sem limites.

Às vezes um tanto perigoso nas curvas
Tentando infiltrar em vão
Alguns buquês enormes, perfeitos
Num altar lateral

Nas mangas de tua cogula

Na escuridão da madrugada
No dia do teu enterro
Um caminhão com seus faróis
Como um navio de guerra
Chegou até o portão
Por seu jardim silencioso e abandonado

O breve lampejo
Acende grutas, pirâmides e presenças
Uma a uma
O vermelho do portão se abriu
E se fechou rangendo sob as luzes
E houve nada

Como se Leviatã

Excitado pelo rastro de outro sangue
Tivesse passado por ti
Sem te ver escondido nas flores.




ELEGY FOR A TRAPPIST

Maybe the martyrology until today
Has found not fitting word to describe you
Confessor of exotic roses
Martyr of unbelievable gardens

Whom we will always remember
As a tender-hearted careworn
Generous unsteady cliff
Lurching in the cloister
Like a friendly freight train
To some uncertain station

Master of the sudden enthusiastic gift
In an avalanche
Of flower catalogues
And boundless love.

Sometimes a little dangerous at corners
Vainly trying to smuggle
Some enormous and perfect bouquet
To a side altar
In the sleeves of your cow

In the dark before dawn
On the day of your burial
A big truck with lights
Moved like a battle cruiser
Toward the gate
Past your abandoned and silent garden

The brief glare
Lit up the grottos, pyramids and presences
One by one
Then the gate swung red
And clattered shut in the giant lights
And everything was gone

As if Leviathan
Hot on the scent of some other blood
Had passed you by
And never saw you hiding in the flowers.

The Collected Poems of Thomas Merton
(New Directions, Inc., New York), 1977, p. 631- 632
Reflexão da semana de 12-11-2007

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