Em seu sucinto folheto De Institutione Virginis (Da Educação de uma Virgem), Ambrósio [Bispo de Milão, m. 397], conjuga misticismo e humanismo de um modo que merece um estudo muito mais detalhado do que podemos tentar aqui. Atinge-se a plena maturidade da vida cristã em uma união virginal com Cristo que, por sua vez, implica a perfeita integração de toda a pessoa humana. A união com Cristo implica Sua entrada em uma personalidade que tem perfeita unidade em seus três elementos tradicionais: corpo, alma e espírito - corpus, anima, spiritus.
Esse tratado de Santo Ambrosio é particularmente interessante por sua aberta defesa das mulheres de maneira geral. Baseando-se na narrativa da criação do Gênese e na doutrina de São Paulo sobre o mistério de Cristo tipificado na união de Adão e Eva, o humanismo místico de Ambrósio declara que o homem sem mulher é física e espiritualmente incompleto, e que a mulher é, em sentido muito profundo, a ‘glória’ do homem, sua complementação espiritual, sua ‘graça’, sem a qual ele não pode possuir ou recuperar plenamente o seu verdadeiro ser em Cristo…
[A] beleza do corpo da mulher é uma grande obra de Deus, destinada a ser sinal da muitíssimo maior beleza interior, da especial claridade e amabilidade de seu espírito. De fato, Santo Ambrósio declara que é bem evidente que as mulheres são mais generosas, mais virtuosas, mais abnegadas do que os homens…
[A] beleza do corpo da mulher é uma grande obra de Deus, destinada a ser sinal da muitíssimo maior beleza interior, da especial claridade e amabilidade de seu espírito. De fato, Santo Ambrósio declara que é bem evidente que as mulheres são mais generosas, mais virtuosas, mais abnegadas do que os homens…
Esta defesa, totalmente reparadora, da mulher nos dá alguma indicação da profundidade e realidade do humanismo patrístico. De fato, como pode haver verdadeiro ‘humanismo’ quando a metade da espécie humana é ignorada ou excluída? O humanismo pagão, reservado exclusivamente ao homem, por trás de um verniz de filosofia, só faz exaltar sua complacência e justificar seu egoísmo. Um humanismo só para homens nada mais é, como vimos, do que uma falsidade bárbara. A luz do verdadeiro humanismo é alimentada pelo Verbo Encarnado.
Mystics and Zen Masters, Thomas Merton
(Dell Publishing Company, New York), 1961, p. 118-119
Reflexão da semana de 17-12-2007
Um pensamento para reflexão: “Não ouvimos a voz doce, a voz suave, a voz feminina, a voz da Mãe: contudo, ela fala por toda parte e em tudo. A sabedoria clama no mercado – ‘se alguém for pequeno, deixe-o vir a mim’.”
Turning Toward the World, Journals Volume 3, Thomas Merton
2 comentários:
Como sempre grandes reflexões, profundas mas muito simples. Gosto de vir aqui. Já agora, sabe se existe algum movimento dentro da igreja católica, que se dedique mais à parte contemplativa?
Obrigado, caro irmão, por essas mensagens que nos aliemntam espiritualmente todo o ano, em meio a tantas mazelas do país e do mundo.
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