"Quando penso agora naquele período de minha infância, a imagem que tenho de meu irmão é esta: parado no meio de um campo, a uns cem metros de distância das árvores onde havíamos construído nossa cabana, estava aquele garoto de cinco anos de idade, olhando perplexo, vestido calças curtas e uma espécie de jaqueta de couro, muito quieto, com os braços caídos ao lado do corpo, olhando na nossa direção, com medo de chegar mais perto por causa das pedradas, tão insultado quanto triste, com os olhos cheios de indignação e mágoa. E, todavia, não se afastava dali. Gritávamos para que ele saísse daí e fosse para casa, atirávamos algumas pedras na sua direção, mas ele não ia embora. Falávamos que fosse brincar em outro lugar, mas ele não se movia.
E ali ficava, sem soluçar, sem chorar, mas zangado e infeliz, ofendido e tremendamente triste. Olhava, porém, fascinado para aquilo que estávamos fazendo, isto é, pregando sarrafos por cima de nossa nova cabana. Seu imenso desejo de estar conosco e fazer o que fazíamos não o deixava ir-se embora. A lei escrita em sua natureza dizia que devia ficar com seu irmão mais velho e fazer o que ele fazia: não conseguia entender por que essa lei do amor estava sendo tão selvagem e injustamente violada em seu caso.
E ali ficava, sem soluçar, sem chorar, mas zangado e infeliz, ofendido e tremendamente triste. Olhava, porém, fascinado para aquilo que estávamos fazendo, isto é, pregando sarrafos por cima de nossa nova cabana. Seu imenso desejo de estar conosco e fazer o que fazíamos não o deixava ir-se embora. A lei escrita em sua natureza dizia que devia ficar com seu irmão mais velho e fazer o que ele fazia: não conseguia entender por que essa lei do amor estava sendo tão selvagem e injustamente violada em seu caso.
Muitas vezes acontecia a mesma coisa. E, em certo sentido, esta situação terrível é o padrão e protótipo de todo o pecado: a vontade deliberada e formal de rejeitar o amor desinteressado por nós pela razão puramente arbitrária de simplesmente não o querermos.
Queremos separar-nos desse amor. Nós o rejeitamos total e absolutamente e não queremos reconhecê-lo, simplesmente por que não nos agrada ser amados. Talvez o motivo mais profundo é que o fato de sermos amados desinteressadamente nos lembre de que todos precisamos do amor dos outros para levar avante nossa vida. Recusamos o amor e rejeitamos o convívio, à medida que isto parece à nossa perversa imaginação implicar uma forma obscura de humilhação."
The Seven Storey Mountain, de Thomas Merton
(Harcourt, Brace, New York), 1948
No Brasil: A montanha dos sete patamares, (Editora Vozes, Petrópolis), 2005, p. 27
(Harcourt, Brace, New York), 1948
No Brasil: A montanha dos sete patamares, (Editora Vozes, Petrópolis), 2005, p. 27
3 comentários:
A leitura dehoje trouxe a minha lembrança situações muito parecidas, minha irmã mais velha e eu, depois entre os meus dois filhos. Penso o qu^havera no fundo e nos que rejeitamos aqueles que depois amamos quando adultos ? Fico certa que Deus , não tem essas maneiras e è o maior interessado em q vivamos sempre no amor. Myriam.
Merton nos diz que o fato de sermos desinteressadamente amados nos lembra de que precisamos do amor dos outros para levar avante nossa vida. Creio que é nosso ego, nossa personalidade, portadora a consciência da separação, ela é que rejeita, tantas vezes, esse amor desinteressado, em razão de colocar em xeque sua prepotência. Na verdade, penso, o amor dos outros e o amor aos outros é sempre o amor do mesmo pelo mesmo, pois só no nível da aparência é que somos múltiplos. Somos, de fato, UM, mas nosso ego nos engana. O UM que somos é AMOR, raiz de toda vida, de toda forma, de tudo aquilo que existe.
Muito bom, falta humildade para aceitar o amor dos outros.
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