17 outubro 2016

A messe é grande...

Thomas Merton e Catherine de Hueck Doherty, a Baronesa em
torno do centro comum, o Cristo
“Vendo aqueles rapazes e moças na biblioteca, comecei a perceber um pouco do problema do Harlem. Aqui, logo do outro lado da rua, eu vi a solução, a única solução: fé, santidade. E não era preciso ir longe para encontrá-las.

Se a Baronesa, dando seu tempo, deixando as crianças ensaiar peças, oferecendo-lhes algum lugar onde pudessem ao menos ficar fora da rua, fora da passagem dos caminhões, conseguia reunir em torno dela almas como dessas santas mulheres e formar, em sua organização, outras que eram igualmente santas, fossem elas brancas ou de cor, não tinha apenas realizado seu ideal, mas poderia também, pela graça de Deus, transfigurar a face do Harlem. Tinha diante de si várias medidas de farinha e já havia à disposição um pouquinho de fermento. Conhecemos a maneira de Cristo operar. Não importa quão impossível a coisa possa parecer do ponto de vista humano; podemos acordar um dia e constatar que toda a massa está fermentada. Isso pode ser feito com santos!

Quanto a mim, soube logo que era bom estar ali e, por duas ou três semanas, apareci todas as noites; jantava com a pequena comunidade no apartamento e depois recitávamos em inglês as Completas, dispostos em dois coros na sala estreita. Era a única vez que faziam algo que as assemelhava a uma comunidade religiosa, mas nada havia de formalmente litúrgico. Era uma iniciativa totalmente familiar.

Depois disso dedicava-me, por duas ou três horas, à tarefa do que eufemisticamente se chamava ‘tomar conta dos aprendizes’. Eu ficava no armazém, onde era sua sala de jogos, tocava piano mais para mim do que por outra coisa e procurava, por algum tipo de influência moral, manter a paz e prevenir alguma briga mais séria (...). Mas na maior parte do tempo tudo era paz. Jogavam pingue-pongue e monopólio. Para um garotinho eu cheguei a desenhar uma imagem da Santíssima Virgem.”
A montanha dos sete patamares, Thomas Merton (Editora Vozes), 2ª Edição, 2010, pág. 315

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