trecho final do Prólogo
(...)
Este livro é uma meditação sobre a vida monástica, por alguém
que, sem nenhum mérito seu, tem o privilégio de conhecer essa vida por dentro.
Se há nestas páginas algo de valor, vem, não de algum talento especial do
autor; este procura apenas servir de porta-voz a uma tradição multissecular,
como indigno descendente de S. Bento e dos primeiros Apóstolos, a quem todos os
monges consideram como seus Pais espirituais.
Assim como nada há de mais detestável do que a tentativa de
fazer propaganda da vida monástica, não há coisa mais agradável que a esperança
de poder tornar mais conhecido o mistério íntimo de uma vida tão rica da
misericórdia e bondade de Deus.
Nestas páginas consideraremos primeiramente alguns dos
aspectos da vida monástica como tal. Em seguida, falaremos das mais importantes
Ordens monásticas que florescem na Igreja, na época atual. É nossa intenção dar
uma ideia do espírito monástica como se encontra entre os cenobitas
(beneditinos e cistercienses) e os eremitas (cartuxos e camaldulenses).
Falando da sublimidade do ideal monástico a da excelência desse
modo de vida particular, de maneira alguma queremos dar a impressão de que as
Ordens monásticas sejam, por sua própria natureza, superiores aos outros
institutos religiosos. Pois, afinal, a dignidade principal do monge encontra-se
no fato de ter ele abandonado todo espírito de concorrência e a busca da glória
humana, contentando-se em ser o último de todos. Mais exatamente falando, não
tem o monge uma norma que lhe permita comparar-se aos outros religiosos. Seus
olhos não estão voltados para os campos de batalha da planície, dirigem-se para
o deserto onde Cristo será visto novamente, à direita do Pai, vindo na glória
sobre as nuvens do céu.
O horizonte monástico é, nitidamente, o do deserto. Mesmo
quando escreve para cristãos no mundo, ou pinta para alguma paróquia ou
comunidade a imagem de Cristo-Rei, tem o monge seu rosto voltado para o
deserto. Seus ouvidos não estão atentos aos ecos do apostolado que investe
sobre a cidade de Babilônia, e sim ao silêncio das longínquas montanhas em que
os exércitos de Deus e do inimigo se defrontam em misterioso combate, do qual a
luta no mundo é apenas pálido reflexo.
A Igreja monástica é a Igreja do deserto, é a Mulher que
fugiu para o ermo, a fim de escapar do dragão que procura devorar o Verbo
Menino. É a igreja que, por seu silêncio, nutre e protege a semente do
Evangelho plantada pelos apóstolos no coração dos fiéis. É a Igreja que, pela
oração, obtêm a fortaleza para os apóstolos, eles próprios tantas vezes
oprimidos pelo monstro. A igreja monástica é a que foge para um lugar especial
que lhe foi preparada por Deus no deserto e esconde seu rosto no Mistério do silêncio
divino, e ora enquanto se desenrola a luta do grande combate entre a terra e o
céu.
Sua fuga não é uma evasão. Se o monge fosse capaz de compreender
o que se passa dentro dele, poderia dizer que muito bem sabe como o combate
está sendo travado em seu próprio coração.
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