07 setembro 2004

Marta, Maria e Lázaro



"Lembremos, mais uma vez, que essa distinção teria parecido estranha a S. Bernardo, como aos outros Padres da Igreja. Vimos que S. Bernardo achava natural que houvesse vocações de vida ativa e de vida contemplativa no seio de um mesmo, mosteiro. De um modo geral, todos rezavam juntos atrás da mesma clausura, todos trabalhavam juntos e liam juntos no claustro. Suas ocupações exteriores eram, mais ou menos, as mesmas. E' verdade que o monge encarregado de uma função especial em relação com a vida exterior (officialis frater) tinha uma tarefa particular, como a de despenseiro, enfermeiro ou porteiro do convento. Mas vamos também ver que a vida ativa, num mosteiro, pode ser também uma atitude unicamente interior. Dois monges de pé, lado a lado no côro, cantando os mesmos salmos, ou então sentados juntos no claustro, ou trabalhando juntos no campo, fazendo, de manhã à noite, as mesmas coisas, poderão levar, cada qual, vida diferente, graças à diferença de suas disposições interiores. 

Para um será a vida contemplativa de Maria, para o outro, a vida ativa e penitente de Lázaro ou, se for encarregado de tarefas e cuidados matariam, a vida da laboriosa Marta.

É bem evidente que alguém não se torna um contemplativo só por viver num mosteiro. Quando S. Bernardo nos fala da vida contemplativa, entende por isso algo de muito mais profundo e real. Entende uma vida de união estreita com Deus pela oração mística: a vida de uma “Sponsa Verbi”, que é esposa não só porque esse é seu estado, mas também por escolha interior.

Todos os monges não são contemplativos. Alguns levam uma vida ativa, no sentido de que seu “espírito” é ativo, de uma atividade voltada para a penitência. Outros são ativos porque se ocupam de tarefas numerosas para o bem da comunidade. Outros, finalmente, são ativos no sentido apostólico: são sobretudo os superiores e aqueles cuja missão consiste em dirigir e formar outros monges. No pensamento de S. Bernardo, só os Abades parecem entrar nessa categoria."

Thomas Merton, páginas 16 e 17

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