07 setembro 2004

Direção espiritual e Meditação



Prefácio do Autor

ESSE livro contém material consideravelmente aumentado e revisto sobre direção espiritual e meditação, publicado em artigos mensais na revista Sponsa Regis. A primeira parte se dirige ao cristão, particularmente aos religiosos e religiosas, que procuram um guia espiritual, ou já o possuem, e desejam aproveitar ao máximo das vantagens dessa direção. Espera-se, ao mesmo tempo, que alguns padres demasiadamente tímidos para se considerarem “diretores espirituais” em potencial possam, ao ler estas páginas, aprender a dominar sua natural hesitação e, contando com a ajuda de Deus, sentirem-se animados a dar conselhos e estímulo no confessionário, quando se apresentar a oportunidade.



Espera-se, ainda, que algumas ideias demasiadamente rígidas e estereotipadas sobre direção espiritual possam ser parcialmente desfeitas por um dos pontos visados nestas páginas. Trata—se de não considerar o guia espiritual como máquina mágica, apta a resolver casos e problemas, e dotado do poder de declarar qual seja a santa vontade de Deus, sem a menor possibilidade de um apelo em contrário. Espera-se mostrar que o guia espiritual é um amigo em quem se confia que, numa atmosfera de compreensão e simpatia, nos ajuda e fortalece em nossos esforços, nosso tatear, para corresponder à graça do Espirito Santo, que é o único verdadeiro Guia no sentido pleno da palavra.

Damos, também, ênfase ao fato de que a graça constrói sobre a natureza. Aproveitaremos melhor da direção espiritual se formos encorajados a desenvolver nossa simplicidade natural, nossa sinceridade, nossa franqueza e nossa integridade espiritual. Em uma palavra, a sermos “nós próprios“ no sentido mais elevado do termo. Assim, a utilização sadia e generalizada desse importante meio de chegar a perfeição auxiliará os cristãos a manter um contato vital com a realidade de sua vocação e de sua vida, em lugar de se perderem num emaranhado de ficções devotas.


A segunda parte do livro é composta de notas sobre a meditação. Foram escritas em 1951 como uma espécie de companheira à brochura “Que é a Contemplação?” Depois de datilografadas, foram postas de lado e esquecidas. Agora vêm à luz. Com retoques e correções. Não se pode aprender a meditar por meio de um livro. É preciso simples mente meditar. Mas podemos todos concordar em que algumas sugestões, no momento propicio e com as palavras adequadas, serão talvez, de grande eficácia.


Esperamos que essas páginas possam ajudar alguém que ainda não conseguiu encontrar em outros livros aquilo de que estava necessitando sobre o assunto. É razão suficiente para a sua publicação, supondo não haver nada de radicalmente errado na exposição que damos. Não deveria haver. O assunto é perfeitamente tradicional e conhecido. A única característica particular do tratamento que damos é a ausência de formalidade e a aversão aos sistemas convencionais e rígidos. Não que haja algo de errado nesses sistemas de meditação - e certamente a aversão aos sistemas não deve ser interpretada como repugnância pela disciplina. A disciplina é da maior importância, sem ela meditação alguma séria jamais será possível. Contudo deve ser a nossa própria disciplina não uma rotina imposta mecanicamente de fora.


Aqui, pois, estão estas páginas que não pretendem ser completas, perfeitas ou exaustivas. Tocam apenas em alguns pontos importantes que qualquer pessoa precisa compreender antes de poder meditar realmente bem. Em nenhum lugar dessas notas insisti em que a meditação fosse importante, e em lugar algum procurei impingir a alguém a ideia de meditar. Isso porque são coisas consideradas normais. Este livre não se destina a pessoas que não desejem meditar. É para os que já acham interessados e gostam do meditar diariamente.


O fator desejo é, evidentemente, de extrema importância. Uma das razões principais de não chegarem pessoas que se consagram diariamente à meditação a algo positivo é que a ela se entregam sem grande entusiasmo, sem interesse sério. É evidente que, não possuindo alguém o desejo real de meditar, não terá êxito algum. Pois aqui, antes de mais nada, o trabalho tem de ser feito por nós mesmos, ajudados pela graça de Deus. Nenhuma outra pessoa nos pode substituir nesse assunto.

Abadia de Gethsemani
Outono, 1959

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