da Introdução
Não há dúvida de que a vocação monástica [é uma das mais
belas da Igreja de Deus. A “vida contemplativa", como é em geral chamada
hoje a vida das ordens monásticas, é uma vida inteiramente dedicada ao mistério
de Cristo, a viver a Vida de Deus que se dá, a Si mesmo, a nós em Cristo. É uma
vida totalmente entregue ao Espírito Santo, vida de humildade, obediência,
solidão, de silêncio, oração, onde renunciamos aos desejos e orientação
pessoais para viver na liberdade dos filhos de Deus, guiados pelo Espírito
Santo que fala através de nossos Superiores, de nossa Regra, pelas inspirações
de Sua graça no íntimo dos corações. Vida de total oblação a Deus em união com
Jesus que foi crucificado por nós, ressuscitou dos mortos e vive em nós por Seu
Santa Espírito.
Todavia, por mais bela que seja esta vida, simples e elevada
tal como a tradição monástica no-la mostra, os monges são seres humanos e a
humana fragilidade tende sempre a diminuir ou a deturpar a integridade do que
nos foi dado por Deus. E é tanto mais de se lamentar que algumas almas, cheias
de boa vontade e de generosidade, abraçam a vida monástica e acabam vendo sua boa
disposição dispersa em futilidades e na rotina. Em vez de viver a vida
monástica em sua pureza e simplicidade, tendemos sempre a complica-la ou pervertê-la
graças a nossa visão limitada e desejos humanos demais. Damos exagerada importância
a aspectos parciais da vida, desequilibrando assim o conjunto. Ou então caímos naquela
miopia espiritual que só vê pormenores e perde de vista a grande unidade
orgânica em que fomos chamados a viver. Em resumo, para compreender as inúmeras
regras e observâncias da vida monástica, precisamos ter sempre diante dos olhos
a significação real do monarquismo. Para não nos embaraçarmos nos meios que nos
são dados, é-nos preciso relacioná-los sempre com seu fim.
Somente à luz do mistério de Cristo podem ser vistas as
grandes finalidades da vida monástica. Cristo é o centro do monaquismo. Sua
fonte e seu fim. É o caminho do monge tanto quanto seu alvo. Prescrições
monásticas e observâncias, práticas de ascetismo monástica e oração devem ser
continuamente integradas nesta realidade mais alta. Vistas sempre como parte de
uma realidade viva, como manifestações de uma vida divina, mais do que elementos
de um sistema ou manifestações apenas de um dever. O monge faz mais do que
conformar-se com prescrições e ordens que não pode compreender - deixa de lado
sua vontade para viver em Cristo. Renuncia a uma liberdade inferior em vista de
outra mais alta. Mas, para que sua renúncia seja frutuosa e válida, precisa ter
o monge alguma ideia do que está fazendo.
O intento destas notas é examinar brevemente os grandes princípios
teológicos sem os quais observância monástica e vida monástica não teriam
sentido. As verdades aqui apresentadas assumem obrigatoriamente forma muito condensada.
Quem quiser entende-las terá de lê-las, pensando-as, na presença de Deus.
Embora escritas para monges e, em particular, para noviços e
postulantes cistercienses, poderão estas páginas interessar a todo religioso e
mesmo a todo cristão, já que a vida monástica é tradicionalmente considerada
como a pura vida cristã, a perfeita vida "em Cristo". Um caminho seguro
para o cume daquela comum perfeição da caridade a que Jesus chamou quantos
deixaram o mundo para seguí-Lo ao céu.
Há 05 postagens desta obra no blog:
Eu vos dou a minha paz
Forças poderosas (parte1)
Forças poderosas (parte 2)
Forças poderosas (parte 3 - final)
O caminho obscuro da contemplação
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