07 setembro 2004

Ofensiva de paz


Ofensiva de Paz é um livro diferente e espantoso. Poderia parecer, pelo título, um repositório de apelos, talvez patéticos, mais ou menos alegóricos, a favor de um adocicado desarmamentismo. E não é nada disso. O desejo de que a harmonia se instale entre os povos resulta mais, depois de sua leitura, da perplexidade com que o leitor se encontra perante a ameaça da guerra atômica, desvendada agora, pela primeira vez, por inteiro, diante de seus olhos. Toda noticia de até hoje nos veio dos projeteis atômicos sempre ocultam alguma coisa. E a palavra dos estadistas oferece, apesar de tudo, uma esperança, a meio do possível conflito. Muita ilusão, muito disfarce, que esta obra extingue.

Os autores, peritos em seus diversos ramos especializados, têm a coragem e a caridade de apontar o nu e o cru da realidade. Dirão o tamanho da tragédia. Que segurança prometem os abrigos de que se fala. Que sucederá à volta do agrupamento familiar, insulado no mar imenso do pavor. Estudarão consequências e problemas de todos os tipos ligados, direta ou indiretamente, à explosão nuclear.

Nem as questões morais ficaram de fora. As terríveis questões morais, surgidas do limite em que o homem acossado se aproximará da fera.

Por certo, você se achará a perturbar-se diante desta pergunta, de que jamais suspeitou, mas que se torna atual e perfeitamente plausível: poderia eu matar o meu próximo se, procurando salvar-se da catástrofe, tentasse disputar comigo a única proteção, apenas bastante para a minha mulher e os meus filhos? Ninguém voltará a última página, sem se sentir abalado, sem mergulhar em muita meditação. Sem se interrogar sobre o destino que o Homem para si constrói. Sem se sentir atraído para uma Ofensiva da Paz.


Tradução de Alceu de Amoroso Lima

Livro raríssimo. Pode ser encontrado nas bibliotecas dos Mosteiros e Institutos Religiosos.

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